Black Sabbath - Os 57 Anos da Discografia Alicerce do Heavy Metal

A história do Black Sabbath começa em Birmingham, na Inglaterra, uma cidade industrial marcada por fábricas, fuligem, pobreza e um cotidiano cinzento onde o trabalho pesado era a única ideia de futuro possível. E foram esses elementos que ajudaram a influenciar diretamente a sonoridade obscura da banda.
E em meio a esse ambiente hostil e proletário, compartilhando uma juventude de privações econômicas, desemprego e perspectivas limitadas que os quatro membros fundadores, Geezer Butler (baixo), Tony Iommi (guitarra), Bill Ward (bateria) e Ozzy Osbourne (vocais), nasceram e cresceram.
Antes de se tornarem efetivamente o que veio a ser o Black Sabbath, o grupo passou por outros nomes e formações. A primeira encarnação da banda surge em 1968 com o nome Polka Tulk Blues Band, que logo evoluiu para Earth. Durante essa fase, a banda ainda buscava um estilo mais próximo do blues e do rock psicodélico, como outras bandas da época.
A grande virada veio quando Geezer Butler, fã de ocultismo e literatura sombria (influenciado por H.P. Lovecraft e Aleister Crowley), escreve a letra do que se tornaria a música ‘Black Sabbath’, inspirada em um pesadelo em que teve onde uma figura encapuzada sentava ao pé de sua cama.
Iommi, por sua vez, compõe um riff lento e dissonante, conhecidos como “intervalo do diabo” ou diabolus in musica. A música foi tão impactante que o grupo decidiu adotar Black Sabbath como nome definitivo, inspirado no filme de terror italiano “I Tre Volti Della Paura” (Black Sabbath, 1963), dirigido por Mario Bava.
Com esse novo direcionamento, o grupo passou a explorar temas incomuns para o rock da época, entre eles ocultismo, guerra, paranóia, crítica social e espiritualidade, tudo isso sustentado por riffs pesados, atmosferas sombrias e batidas cadenciadas. Nascia ali, com força inédita, o heavy metal.
Black Sabbath (1970)
A faixa de abertura, “Black Sabbath”, é até hoje considerada a primeira canção de heavy metal da história. Outras faixas, como “The Wizard” (inspirada em Gandalf, de O Senhor dos Anéis), “N.I.B.” (que narra uma história de amor a partir da perspectiva do Diabo) e “Behind the Wall of Sleep”, estabeleceram a base do som pesado e atmosférico que se tornaria a marca registrada da banda.
Apesar das críticas negativas na época — a imprensa considerava o som primitivo e a temática "satanista" apelativa — o disco foi um sucesso comercial, alcançando o Top 10 no Reino Unido e nos EUA. O público jovem, especialmente os descontentes com os hippies e o flower power, abraçou a novidade.
Paranoid (1970)
Além de "Paranoid", o disco também inclui alguns dos maiores clássicos da banda, como “War Pigs” — sátira feroz aos políticos que enviam jovens para a guerra, “Iron Man” — com um dos riffs mais reconhecíveis da história do rock e “Hand of Doom” — com fortes críticas ao vício em heroína entre soldados norte-americanos retornando do Vietnã.
Com "Paranoid", o Sabbath não só virou referência mundial no rock pesado como também expandiu sua base de fãs, alcançando o primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e vendendo milhões de cópias no mundo todo. O álbum ainda é considerado um dos pilares fundadores do heavy metal e sua capa uma das piores da banda.
Master of Reality (1971)
O disco tem apenas oito faixas, mas todas são impactantes. Entre os destaques dos fãs estão “Sweet Leaf” — uma ode à maconha, com tosses reais de Iommi no início, “Children of the Grave” — com pegada quase punk, é uma crítica social e política, “After Forever” — surpreendentemente cristã em sua letra, respondendo a acusações de satanismo, “Lord of This World” e “Into the Void” — temas sobre perdição e decadência e “Solitude” — balada melancólica com vocais suaves de Ozzy e flauta.
Master of Reality é mais sombrio e maduro que seus antecessores. Apesar das críticas mistas na época, consagrou de vez a fórmula Sabbath: riffs pesados, atmosferas densas, letras sobre a condição humana e um som que parecia traduzir o peso do mundo.
Vol. 4 (1972)
A gravação foi marcada pelo uso excessivo de cocaína, algo que a banda nunca escondeu. A droga estava tão presente no processo que a faixa instrumental "FX" e o título provisório do disco (rejeitado pela gravadora) seria "Snowblind", uma declaração ao uso de cocaína. Inclusive, a palavra cocaína é repetida ao fundo na faixa, mesmo com o título oficial sendo outro.
Destaques do álbum incluem “Wheels of Confusion” – épica faixa de abertura com múltiplas seções e clima sombrio, “Tomorrow’s Dream” – rock direto e “Changes” – balada com piano e melancolia, escrita por Iommi, com Ozzy num registro emotivo inédito até então.
Esse disco foi o primeiro produzido totalmente pela banda. Também marca o início da experimentação musical e do conflito entre a intenção artística e os efeitos da fama e das drogas.
Sabbath Bloody Sabbath (1973)
E é ali que "Sabbath Bloody Sabbath" finalmente nasce, sendo lançado em 1º de dezembro de 1973. Visto por muitos fãs e críticos como um dos melhores álbuns da banda, o disco traz mais uma vez o ambiente sombrio e pesado para o som do Sabbath, além de uma série de novas ideias e experimentações.
Aqui o Sabbath atinge uma complexidade musical e lírica maior, com arranjos mais elaborados e toques de rock progressivo, orquestrações e sintetizadores. É também um dos discos mais equilibrados em termos de composição e execução.
Entre as faixas de destaque estão a homônima “Sabbath Bloody Sabbath” – riff poderoso e letras que refletem o desgaste emocional, “A National Acrobat” – inspirada na corrida de um espermatozóide até o óvulo; “Spiral Architect” – que mistura orquestra com o peso tradicional da banda e “Who Are You?” – com sintetizadores tocados por Iommi, algo inovador na época.
O disco foi amplamente elogiado pela crítica estadunidense e influenciou bandas de metal progressivo e experimental nos anos seguintes. Também é considerado o último trabalho da “era de ouro” onde todos os quatro membros ainda estavam em sintonia.
Sabotage (1975)
Apesar disso, Sabotage é um disco bastante poderoso e subestimado, carregando um som mais agressivo, letras mais ácidas e um clima mais caótico — tanto sonora quanto emocionalmente. É também o último álbum antes de uma queda mais perceptível na qualidade e estabilidade da banda.
Algumas das músicas com maior presença no disco, ainda que ele como um todo seja excelente, são “Hole in the Sky” – abre o álbum com força bruta; “Symptom of the Universe” – um dos riffs fundadores do thrash metal; “Megalomania” – com mais de 9 minutos, alterna entre trechos lentos e acelerados, quase esquizofrênica; “The Writ” – escrita por Ozzy sobre o processo judicial que enfrentavam, com ataques diretos ao ex-empresário e “Am I Going Insane (Radio)” – apesar do título, não foi feita para rádio; é uma canção psicodélica que remete à instabilidade mental de Ozzy.
Apesar das boas composições, o álbum foi lançado com capa considerada confusa e mal planejada — com a banda vestida formalmente, exceto Bill Ward, que apareceu com calças femininas de lycra rosa, por engano. A estética bizarra virou alvo de piadas, mas musicalmente o disco é forte, sombrio e pesado.
Technical Ecstasy (1976)
Nesse disco, a banda optou por um som mais polido, mais baseado em teclado e menos sombrio do que seus trabalhos anteriores. As gravações ocorreram no Criteria Studios, em Miami, na Flórida, e a produção ficou por conta do próprio Tony Iommi com lançamento em 25 de setembro de 1976.
Ainda assim, a produção do disco refletiu a desconexão entre os membros da banda, especialmente entre Tony Iommi e Ozzy Osbourne, que começava a se sentir deslocado com os novos rumos sonoros. Ozzy se opôs firmemente ao uso crescente de sintetizadores e pianos, enquanto Iommi, que já atuava como o líder musical, queria explorar novos territórios.
Apesar de algumas boas ideias, Technical Ecstasy recebeu críticas mistas na época, sendo considerado inconsistente e pouco inspirado por parte da crítica. Comercialmente, também ficou aquém dos lançamentos anteriores.
Mesmo assim, faixas como “Dirty Women” – um dos poucos momentos realmente pesados, “Back Street Kids” – uma tentativa de hard rock direto, com letra sobre vida nas ruas e “You Won’t Change Me” – atmosfera mais próxima do Sabbath clássico, com vocal emotivo se tornaram algumas das favoritas do público nos shows. A capa é a primeira do grupo criada pela empresa de design Hipgnosis, especializada em capas de discos de rock.
Never Say Die! (1978)
As gravações ocorreram em Toronto, no Canadá, e o processo foi altamente conturbado. Ozzy havia deixado a banda temporariamente em 1977, sendo substituído por Dave Walker (ex-Savoy Brown), com quem a banda chegou a ensaiar e até apresentar uma música nova na BBC.
Mesmo com a substituição, Ozzy acabou retornando, mas se recusou a cantar qualquer coisa escrita sem ele, forçando o recomeço das composições dois antes das gravações do álbum. Isso gerou tensão, atrasos e mais consumo de álcool e drogas.
O álbum é uma colcha de retalhos com uma mistura de tentativas de hard rock, jazz rock, baladas e sons experimentais. Ozzy, embora com pouca disposição, entrega vocais potentes, e Iommi tenta inovar — mas o disco mostra claramente uma banda sem direção.
Ainda que o disco não apresenta nenhuma música efetivamente forte, alguns destaques aparecem ali no meio, como “Never Say Die”, “Junior’s Eyes” e “A Hard Road” com seu rock mais direto e com refrão bastante otimista.
Apesar do esforço, o disco foi mal recebido, tanto pela crítica quanto pelos fãs, criando uma baixa nas vendas e um prejuízo comercial. A capa é, certamente, um dos melhores elementos do álbum, que traz dois aviadores com máscaras super estilizadas (criada novamente pela Hipgnosis), mas que foi tão criticada quanto o som, considerada enigmática e fora de contexto.
A saída de Ozzy Osbourne (1979)

Logo após o término da turnê de “Never Say Die”, a situação da banda se deteriorou ainda mais e muito rapidamente. O clima era tóxico com Ozzy cada vez mais afundado no álcool e nas drogas, aparecendo constantemente atrasado ou ausente nos ensaios.
Iommi, já esgotado pela falta de foco do vocalista e tentando dar um novo rumo à banda, tomou a decisão de demiti-lo em abril de 1979. Foi o fim de uma era.
Ozzy ficou arrasado inicialmente, mas logo seria resgatado por sua futura esposa Sharon Arden, filha do empresário Don Arden, que o ajudaria a formar uma nova banda solo com músicos como Randy Rhoads.
Essa decisão lançaria duas carreiras paralelas lendárias no heavy metal: a do novo Black Sabbath com Ronnie James Dio e a de Ozzy como artista solo.
O renascimento musical do Sabbath (1980)

Marcada por renovação criativa, sucesso crítico e tensão nos bastidores, essa nova fase do Sabbath começa logo após a saída de Ozzy Osbourne e gerou dois discos fundamentais na história do heavy metal. É uma fase que também marcou o início da “segunda era dourada” da banda, trazendo uma série de novos elementos musicais e um trabalho super criativo de composição.
Após a demissão de Ozzy, o Black Sabbath se viu diante de um dilema: seguir em frente ou encerrar de vez a carreira. A resposta veio com a entrada de Ronnie James Dio, ex-vocalista do Rainbow, sugestão da própria Sharon Arden a Tony Iommi, com o primeiro encontro entre os dois gerando logo de cara o que viria ser a faixa “Children of the Sea” logo no primeiro ensaio.
Dio trouxe uma abordagem completamente nova — enquanto Ozzy era visceral, cru e espontâneo, Dio era técnico, melódico, lírico e até mitológico. Isso levou a uma mudança natural na sonoridade da banda com riffs mais melódicos, letras mais fantásticas e estruturas mais elaboradas.
Heaven and Hell (1980)
Além de Dio nos vocais, outra adição que fez muita diferença a banda foi a do tecladista Geoff Nicholls, originalmente um guitarrista e que também chegou a gravar algumas das linhas de baixo do álbum, ainda que não creditado como membro oficial.
Entre os principais destaques, a já citada Children of the Sea”, “Neon Knights”, com abertura explosiva, a faixa-título “Heaven and Hell”, um hino absoluto do heavy metal, a dinâmica “Die Young” , com partes acústicas e explosões elétricas e “Lonely is the Word”, melancólica e arrastada, com solos épicos de Iommi.
"Heaven and Hell" foi um sucesso crítico e comercial em seu lançamento, vendendo mais que os dois anteriores e sendo amplamente visto como um renascimento artístico do Black Sabbath.
Mob Rules (1981)
"Mob Rules" foi lançado em 4 de novembro de 1981 e manteve a energia do disco anterior, mas com um som mais cru e direto. Produzido novamente por Martin Birch, o álbum tem uma pegada mais agressiva e menos refinada. É também mais sombrio e denso, refletindo tensões internas crescentes.
Com músicas que transitam entre riffs super marcantes e letras místicas, assim como uma atmosfera épica e poderosa, Mob Rules consegue ampliar sua musicalidade com “Turn Up the Night”, “Voodoo”, “The Sign of the Southern Cross”, um dos pontos mais altos da carreira de Dio, a violenta e direta faixa-título “Mob Rules” e “Falling Off the Edge of the World” com sua bela introdução acústica seguida por peso intenso.
Apesar das boas músicas, "Mob Rules" não teve o mesmo impacto de Heaven and Hell, mas consolidou a formação com Dio e Appice. A turnê foi longa e bem-sucedida, especialmente nos Estados Unidos.
Live Evil (1982) – Glória ao vivo, crise interna
Porém, o projeto que deveria celebrar a nova fase do Sabbath acabou sendo o estopim da crise final entre Dio e o resto da banda.
Com conflitos internos que iam desde problemas na mixagem dos vocais, com Iommi e Butler alegaram que Dio estava indo ao estúdio sem avisar para aumentar o volume de seus vocais na mixagem, falta de confiança entre os membros, onde Dio, por sua vez, dizia que não era bem-vindo no processo de mixagem e que estava sendo deixado de lado e, principalmente, o desgaste de egos, já que Dio havia se tornado uma figura de destaque, e os conflitos com Iommi e Butler se intensificaram.
O resultado? Antes mesmo do álbum ao vivo ser lançado, Dio e Vinny Appice deixaram a banda para formar o já pensado e planejado trabalho solo do vocalista onde lançaria o clássico Holy Diver em 1983.
"Live Evil" foi lançado em 16 de dezembro de 1982, trazendo um repertório que misturava clássicos da era Ozzy com faixas dos dois discos com Dio. O disco foi bem elogiado por alguns pela performance poderosa, muitos fãs e críticos consideraram o disco frio e sem alma, longe do poder explosivo que Dio demonstrava nos palcos.
Um encontro improvável que deu luz a era Ian Gillan (1983)
Em uma reviravolta inesperada, o vocalista escolhido foi Ian Gillan, famoso por seu trabalho no Deep Purple — especialmente na fase clássica com discos como In Rock, Machine Head e Made in Japan.
E o convite surgiu de forma quase casual, em uma noite de bebedeira no The Bear, um pub inglês., onde Iommi, Nicholls e Don Arden (empresário) jantavam com Gillan e conversavam sobre o futuro. Ao fim da noite, ele havia “aceitado” o convite sem lembrar claramente no dia seguinte.
Apesar da surpresa da união entre Gillan e o Sabbath (duas bandas com abordagens bem distintas), todos decidiram seguir em frente.
Born Again (1983)
O resultado sonoro desse disco foi cru, pesado e distorcido, com um clima gótico e sujo. A mixagem gerou críticas na época (inclusive de Gillan, que odiava o som final), mas o álbum ganhou culto com o tempo.
Entre as faixas mais marcantes estão “Trashed”, uma autobiográfica inspirada por um acidente de carro que Gillan causou bêbado sendo lançada também como o único single do disco, a estranha e sombria “Disturbing the Priest” com gritos perturbadores de Gillan, “Zero the Hero”, arrastrada e hipnótica, a faixa-título “Born Again” super climática e com uma atmosfera melancólica e “Digital Bitch”, uma crítica ácida ao mundo das celebridades.
O álbum dividiu fãs e crítica, muitos estranharam a produção embolada e o contraste entre o vocal agudo e limpo de Gillan e o peso arrastado do Sabbath. Ainda assim, Born Again alcançou boas posições nas paradas, chegando a 13º no UK Charts.
Gillan, no entanto, não se adaptou à banda — não gostava do repertório antigo, teve dificuldades com a sonoridade mais obscura e saiu após a turnê, retornando ao Deep Purple em 1984.
Reunião da formação original no Live Aid (1985)
Foi nesse evento que os quatro membros originais do Black Sabbath — Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward — se reuniram pela primeira vez desde 1979, mesmo que apenas por uma noite. O reencontro ocorreu no palco da Filadélfia, e o Sabbath tocou três músicas, Children of the Grave, Iron Man e Paranoid.
Apesar de ser um momento muito aguardado pelos fãs, com a apresentação sendo marcada por problemas técnicos e visível falta de ensaio. Ozzy estava fora de forma vocalmente, e a química parecia um pouco enferrujada. Ainda assim, a aparição foi histórica e simbólica, reacendendo a ideia de uma possível reunião da formação clássica — algo que só ocorreria de fato mais de uma década depois.
O “não-Sabbath” que virou Sabbath e uma tentativa de recomeço (1986)
O projeto contaria com o nome Tony Iommi na capa e envolveria músicos convidados. Para os vocais, Iommi recrutou Glenn Hughes (Deep Purple, Trapeze), um cantor de grande talento e alcance, embora já com problemas sérios de dependência química à época. Dave Spitz foi chamado para o baixo, Eric Singer (futuro KISS) na bateria e, mais uma vez, Geoff Nicholls retornaria para os teclados.
Seventh Star (1986)
A gravadora Warner Bros./Vertigo e o empresário Don Arden decidiram que lançar o disco apenas como Tony Iommi não teria o mesmo peso comercial. Por contrato, Iommi ainda devia álbuns como “Black Sabbath” e, contra a vontade do guitarrista, o disco foi renomeado e lançado como: "Black Sabbath featuring Tony Iommi – Seventh Star"
Isso causou confusão nos fãs e até um certo ressentimento em Iommi e Hughes que não se considerava membro do Sabbath, e Iommi não via o trabalho como um disco típico da banda. Mas a decisão já havia sido tomada. Ainda assim, algumas faixas ganharam a atenção do público como “In for the Kill”, “No Stranger to Love”, “Danger Zone” e “Seventh Star”, a mais climática e próxima do tom sabbathiano.
Problemas na turnê
Pouco após o início da turnê do "Seventh Star", Hughes foi substituído às pressas por Ray Gillen. Hughes estava com a voz comprometida por brigas físicas e uso de drogas, e a gravadora exigiu a continuidade da turnê. Ray assumiu o microfone e logo entrou nos planos de Iommi para o disco seguinte, The Eternal Idol.
Essas duas fases representam os anos mais erráticos da banda, com trocas constantes de vocalistas e uma identidade em mutação. Ainda assim, "Born Again" e "Seventh Star" têm suas virtudes: o primeiro, como um Sabbath sombrio e disforme; o segundo, como um disco de rock competente lançado sob o nome errado.
Um ídolo ignorado e o nascimento da era Tony Martin (1987)
Para substituí-lo, Iommi contratou Tony Martin, vocalista britânico com potência vocal, aparência carismática e tons épicos — muito influenciado por Dio e David Coverdale. Martin regravou todos os vocais do disco do zero, mesmo com o álbum praticamente pronto.
No final do processo de gravação, a formação de The Eternal Idol acabou tendo Tony Iommi, Tony Martin, Bob Daisley no baixo (gravando o disco, mas participando da turnê), Eric Singer na bateria e, finalmente creditado, Geoff Nicholls.
Para as gravações, além dos vocais não utilizados de Gillen Dave Spitz (baixo) e Bev Bevan (bateria) também chegaram a contribuir com gravações antes da troca de vocalista.
The Eternal Idol (1987)
O disco apresenta faixas poderosas e típica do heavy metal dos anos 80, e tem como destaques “The Shining”, principal single, “Ancient Warrior” com clima melódico e místico, a faixa-titulo “Eternal Idol” com seu som épico e sombrio, além de trechos longos instrumentais, “Born to Lose” e “Glory Ride” compostas muito nos moldes mais épicos de Dio.
Apesar da qualidade sonora e da boa performance de Martin, o disco vendeu mal, especialmente nos EUA, por conta da falta de apoio da gravadora e a constante troca de membros.
Headless Cross (1989)
"Headless Cross" foi lançado em 24 de abril de 1989 e é considerado um dos melhores discos pós-Ozzy/Dio, e até mesmo da fase Tony Iommi em si, sendo listado entre os favoritos do músico. A produção melhorou bastante, apresentando uma sonoridade mais sombria, mas limpa e épica, além de uma entrega muito melhor de Martin com vocais grandiosos.
“Headless Cross”, faixa-título, com letra satânica e refrão poderoso; tornou-se um clássico da era Martin, “Devil & Daughter” apresenta riffs rápidos, com certa influência da era Dio, “Kill in the Spirit World”, um hard rock ocultista, com atmosfera ritualística e “When Death Calls”, uma das melhores do disco, com solo de guitarra de Brian May (Queen) como convidado especial.
De forma geral, as letras do disco giram em torno de temas ocultistas, pragas, pactos com o diabo, bruxas e cruzadas religiosas, criando um clima sombrio e teatral e trazendo um pouco dos primórdios do Sabbath para a nova fase.
Headless Cross foi bem aceito na Europa e Japão, e a turnê teve bom público com shows inclusive no Brasil (primeira vez da banda no país), apesar da baixa divulgação nos EUA.
Na formação, a banda apresenta Tony Iommi, Tony Martin, Geoff Nicholls, Cozy Powell e Laurence Cottle no baixo (gravação apenas) sendo substituído ao vivo por Neil Murray, também ex-Whitesnake e amigo de Powell.
Tyr (1990)
Com a mesma formação firme desde "Headless Cross", o que deu continuidade e foco criativo ao projeto, a essa altura, o grupo parecia finalmente ter reencontrado o equilíbrio musical de antes, mesmo sem grande apoio comercial.
E mesmo com sua qualidade técnica e composições ótimas, Tyr teve uma divulgação bem pobre e uma distribuição péssima nos Estados Unidos, com lançamento concentrado principalmente na Europa e Japão, onde a banda mantinha um público fiel.
Muito dessa baixa exposição midiática vinha por causa da mídia ainda estar muito presa ao legado de Ozzy e Dio e a falta de uma turnê mundial efetiva para promover o disco, com apenas alguns shows isolados ocorreram pelo mundo.
Essa falta de divulgação também causou uma confusão sobre a identidade da banda, muitos dos fãs sequer sabiam quem, de fato, era o vocalista do Sabbath naquele momento.
Mesmo assim, "Tyr" é até hoje considerado um dos pontos altos da era Tony Martin, elogiado por seu foco, arranjos bem elaborados e pelas letras extremamente bem trabalhadas. .
Entre os destaques do álbum entram “Anno Mundi (The Vision)", uma faixa de abertura poderosa, com riffs densos e vocais melódicos, "The Law Maker", uma das principais influências para speed metal lembrando bastante o estilo de Dio nos anos 80,
"Jerusalem" e sua atmosfera litúrgica e poderosa, além dos arranjos corais e temática espiritual e "The Sabbath Stones" a faixa mais longa e pesada do disco apresentando uma das explorações vocais de Martin de maior intensidade.
Situação da banda no início dos anos 90
Havia também pressão tanto dos fãs quanto das gravadoras por uma volta de Ozzy ou até mesmo Dio, o que criava instabilidade constante nos bastidores. Esse cenário levaria, pouco tempo depois, a uma mudança drástica na formação do grupo, o retorno de Ronnie James Dio em 1991 e o início da preparação para o disco “Dehumanizer” no ano seguinte, encerrando temporariamente a era Tony Martin.
O retorno de um antigo ídolo e também aos holofotes (1992)
Após a turnê de "Tyr" (1990), o Black Sabbath passou por mais uma reviravolta. Tony Iommi começou a considerar seriamente a possibilidade de trazer de volta Ronnie James Dio, que não trabalhava com a banda desde 1982. As negociações se intensificaram quando Geezer Butler também demonstrou interesse em retornar — com ele, Dio aceitou voltar ao Sabbath.
Assim, parte da formação clássica da era "Heaven and Hell" foi restabelecida, inicialmente com Powel retornando ao posto de baterista, mas devido a um acidente de cavalo, Vinny Appice acabou mais uma vez sendo a opção para a banda e, mais uma vez, com Geoff Nicholls surgindo nos teclado e de forma creditada.
Dehumanizer (1992)
Das faixa que tiveram maior destaque estão “Computer God”, “After All (The Dead)”, “TV Crimes” com sua crítica ao tele evangelismo da época, “I” (minha faixa favorita) e “Time Machine”, que chegou a fazer parte da trilha sonora do filme Wayne’s World.
Apesar da recepção crítica positiva e boas vendas iniciais, as tensões entre Dio e o restante da banda ressurgiram. O estopim, dessa vez, veio quando Ozzy convidou o Sabbath para abrir seu show de despedida em 1992, em Los Angeles. Dio se recusou a participar por considerar desrespeitoso dividir palco com Ozzy saindo da banda dois dias antes do show e sendo substituído às pressa por Rob Halford, vocalista do Judas Priest (mas apenas para essa apresentação).
O retorno de Tony Martin e o fechamento definitivo de um ciclo (1994)

Após a saída repentina de Dio, Iommi precisou de uma solução rápida. O vocalista Tony Martin, que havia deixado o grupo em 1991, foi chamado de volta. Essa nova formação incluía também Bobby Rondinelli (ex-Rainbow) na bateria, com Geezer permanecendo no baixo.
A formação se fecharia em Tony Martin, Tony Iommi, Geezer Butler, Bobby Rondinelli e Geoff Nicholls para a composição e gravação do futuro álbum.
Cross Purposes (1994)
Apesar da qualidade, o disco teve baixa mais uma vez divulgação nos EUA, e a turnê que se seguiu foi bastante limitada, mesmo contando com um álbum ao vivo lançado em 1995, Cross Purposes Live (lançado apenas em VHS e CD e de forma bastante limitada).
Forbidden (1995)
Tentando trazer uma sonoridade ainda mais moderna e puxada para o metal daquele momento, o álbum traz na produção Ernie C, guitarrista da banda de rap metal Body Count, contando também com a participação de Ice-T em uma das faixas.
O resultado foi uma tentativa falha de soar atual, com produção crua e pouco inspirada. Nem mesmo Martin ficou satisfeito com o material, e Iommi já afirmou em várias entrevistas que não gosta do disco. Ainda assim, para muitos, as faixas “The Illusion of Power” (com Ice-T), “Get a Grip”, que chegou a ganhar clipe, e “Guilty as Hell”, são consideradas boas composições.
Com "Forbidden", a era Tony Martin se encerra definitivamente, que sairia da banda em meio ao desgaste com a gravadora e a pressão por uma reunião com os membros originais.
A segunda reunião da formação original (1997/1998)
Ozzy já vinha realizando a Ozzfest desde 1996, e em 1997, Tony Iommi foi chamado para participar como convidado. A resposta do público foi tão positiva que a formação original resolveu encerrar o festival com um show completo do Sabbath, que gerou enorme repercussão.
Apesar de Bill Ward ter alguns problemas de saúde e ser temporariamente substituído por Mike Bordin (do Faith No More), o baterista retornou em definitivo ainda naquele mesmo ano para os shows de reunião.
Reunion (1998)
A reunião mostrou que o Black Sabbath ainda era capaz de empolgar plateias inteiras, mesmo com décadas de conflitos e mudanças. Esse marco pavimentaria o caminho para os shows dos anos 2000 e, mais tarde, para o derradeiro disco com Ozzy, "13" (2013).
O retorno como Heaven & Hell e o último capítulo com Ronnie James Dio
Depois de anos de especulação sobre um retorno da era Dio, o Black Sabbath optou por um caminho diferente. Em 2006, Tony Iommi, Geezer Butler, Ronnie James Dio e Vinny Appice se reuniram não como Black Sabbath, mas sob o nome Heaven & Hell — uma homenagem ao icônico álbum de 1980.
A ideia de usar outro nome foi uma decisão consensual para evitar confusão com a formação clássica com Ozzy e também pelos direitos do nome Black Sabbath, agora nas mãos de Sharon Osbourne. Isso também ajudou a manter o foco nas músicas da era Dio.
The Devil You Know (2009)
A banda excursionou com grande sucesso, inclusive passando pelo Brasil em 2009. Porém, o destino logo se impôs. No mesmo ano, Dio foi diagnosticado com câncer de estômago e o tratamento foi iniciado rapidamente. Houve esperança de recuperação, mas em 16 de maio de 2010, Ronnie James Dio faleceu aos 67 anos, encerrando definitivamente qualquer possibilidade de continuação da banda Heaven & Hell.
Seu funeral reuniu milhares de fãs e músicos, sendo lembrado até hoje como uma das maiores e mais marcantes vozes do heavy metal.
A volta de Ozzy e o álbum final do Black Sabbath (2013)
devido a questões contratuais, o baterista Bill Ward se recusou a participar dessa nova fase sendo substituído nas gravações por Brad Wilk (Rage Against the Machine) e por Tommy Clufetos (já havia tocado com Ozzy solo) nas apresentações ao vivo durante toda a turnê de divulgação do álbum.
13 (2013)
O disco foi número 1 nas paradas de 16 países, inclusive no Reino Unido (feito inédito para a banda), também recebendo indicações ao Grammy. Após o sucesso do álbum 13, a banda anunciou sua turnê de despedida, chamada "The End Tour". Entre 2016 e 2017, o Sabbath viajou pelo mundo com uma última série de shows.
Back to the Beginning e o legado do Black Sabbath (2025)
Ozzy, debilitado pelo Parkinson, cantou sentado em um trono. Foi sua última apresentação antes de falecer 17 dias depois, aos 76 anos.
Além do próprio Black Sabbath e de Ozzy tocando suas músicas solo, o festival contou com a participação de uma série de diferentes bandas, executando setlists com suas próprias músicas e também alguns clássicos do Sabbath e Ozzy com diferentes músicos participando de supergrupos formados somente para o evento.
Entre as bandas estavam Metallica, Guns N’ Roses, Slayer, Tool, Pantera, Alice in Chains, Halestorm, Lamb of God, Anthrax, Mastodon, Rival Sons, além de uma série de convidados especiais como Slash, Billy Corgan, Steven Tyler, Ron Wood, David Draiman, Lzzy Hale, Jake E. Lee, Chad Smith, Travis Barker e Papa V (Ghost).
O evento foi montado como parte de uma campanha de arrecadação de fundos para três instituições Cure Parkinson’s, Birmingham Children’s Hospital e Acorns Children’s Hospice, conseguindo cerca de 140 milhões de libras (mais de 900 milhões de reais).
Dezessete dias após sua apresentação final ao lado de seus músicos solo e também de seus antigos companheiros do Black Sabbath, no dia 22 de julho, Ozzy Osbourne faleceu em casa e cercado pela família. O funeral aconteceu em 31 de julho, com sepultamento na propriedade da família em Buckinghamshire.
O começo, o meio e a eternidade
O Black Sabbath é considerado o criador do heavy metal como o conhecemos. Sua trajetória de reinvenções, rupturas e reconciliações moldou o gênero e influenciou incontáveis bandas por mais de cinco décadas.
A jornada começou com riffs sombrios em Birmingham e terminou do mesmo jeito, sempre cercados de fãs e com sua música sendo tocada em alto e bom som..
Ainda que não exista mais como banda ativa, o Black Sabbath continua sendo o alicerce sobre o qual o metal foi construído — e sempre será lembrado como tal.
Comentários
Postar um comentário