Wolfsbane - História e Discografia

Por Felipe Leonel

Trazendo em suas músicas uma mistura deliciosa e bastante crua da energia punk e do hardcore, mas com o peso e a atitude do hard rock e do heavy metal em cada riff, solo, ou linha vocal,  o Wolfsbane surgiu lá pelos idos de 1984 na pequena cidade de Tamworth, Inglaterra, se destacando na cena underground da época graças aos seus shows caóticos e cheios de humor. 

Com uma formação que se mantém intacta desde o seus primórdios, o Wolfsbane se consolidou já em suas primeiras aparições, nos quais o vocalista do grupo, Blaze Bayley frequentemente interagia com o público de maneira descontraída, com muitas vezes até usando roupas excêntricas ou brincando com piadas de duplo sentido. 

Toda essa descontração ajudou muito a banda a ganhar fama entre os fãs de metal  da cidade já em seus primeiros shows. Completando o time, fazem parte do grupo o guitarrista Jason Edwards, o baixista Jeff Hately e o baterista Steve "Danger" Ellett.  

Do underground ao primeiro contrato

Ainda nos seus primeiros anos, a banda lançou chegou a lançar uma série de demos, singles e EPs (oito no total) de forma independente, todos com trazendo boa repercussão para o grupo. Mas foi o single “Clutching at Straws” (1988) que chamou a atenção de figuras importantes da indústria, incluindo o produtor Rick Rubin que ficou impressionado pela energia crua da banda, assinando contrato imediato com a grupo e sua gravadora, a Def American Recordings 

E foi com a Def American Recordings (mais tarde renomeada apenas como American Recordings), que a banda produziu e lançou seu álbum de estreia, “Live Fast, Die Fast”, em 1989. Esse primeiro disco capta muito bem a essência do som do Wolfsbane e traz músicas que são consideradas hinos pelos fãs, como "I Like It Hot" e "Shakin'", consolidando de fato a banda como uma das mais promissoras (e excêntricas) do Reino Unido.

E mesmo com o apoio de Rubin, o grupo enfrentou desafios para alcançar o sucesso mainstream. Seu segundo álbum, “Down Fall the Good Guys” (1991), trouxe canções como "Ezy" e "Paint the Town Red", que mantiveram a fórmula energética, mas mesmo nesse ponto o Wolfsbane ainda permaneceu mais como uma banda promissora do que um grande fenômeno. 

Porém, as apresentações ainda eram lendárias — caóticas, engraçadas e intensas, com Blaze Bayley comandando o palco como um showman sarcástico e cheio de energia. A relação da banda com a mídia era igualmente peculiar; entrevistas e matérias frequentemente destacavam seu humor auto depreciativo e a falta de pretensão em meio à cena metal séria dos anos 1990.

O terceiro álbum homônimo, “Wolfsbane” (1994), mostrou uma evolução na sonoridade, com letras mais introspectivas e sentimentais, o que levou a banda a um patamar ainda maior e com grande relevância em mercados externos. 

Um novo capítulo e uma pausa temporária

E foi justamente nesse ano que o destino da banda mudou drasticamente com um convite de Steve Harris (baixista e líder do Iron Maiden) feito a Blaze para ele substituísse Bruce Dickinson no Maiden (onde ficou até 1999 lançando dois álbuns com a Donzela, “The X Factor”, 1995,  e “Virtual XI", 1998). Essa oportunidade foi um divisor de águas, enquanto Bayley ingressava no Maiden o Wolfsbane entrou em hiato por tempo indefinido. 

A entrada de Bayley no Iron Maiden projetou o nome do vocalista para o mundo e ajudou a alavancar ainda mais o grupo internacionalmente, dada a curiosidade dos fãs e saber mais sobre o artista e seus trabalhos prévios, mas também interrompeu um momento bastante produtivo do Wolfsbane, deixando fãs e críticos imaginando o que teria acontecido se continuassem ativos.

Reunião, renovação e novos rumos

Durante o início dos anos 2000, mesmo após a saída de Blaze do Maiden, o Wolfsbane permaneceu adormecida, enquanto vocalista seguiu carreira solo lançando uma série de álbuns durante o período, inicialmente com três álbuns de estúdio sob a alcunha de “Blaze” e com o restante de seus trabalhos já rebatizados como “Blaze Bayley”. 

Em 2010, depois de anos separados e com sua popularidade retornando no meio underground britânico devido aos fãs mais jovens da cena metal do país, os membros originais se reuniram para uma série de shows comemorativos, reacendendo a química que os definia e trazendo novas ideias para composições e turnês. 

O retorno foi tão bem recebido que decidiram gravar novo material, resultando no álbum “Wolfsbane Save the World” (2012), que resgatou a essência clássica da banda enquanto adicionava maturidade lírica. 

Desde então, mesmo mantendo atividade esporádica com poucos shows ao ano, o grupo chegou a lançar novos trabalhos de estúdio, como EP “Did It for the Money”  em 2018 e o aclamado “Genius”, de  2022, que mostrou toda a capacidade de se reinventar sem perder o DNA agressivo e humorístico dos primórdios.

Wolfsbane através das décadas

Dá pra perceber na discografia do Wolfsbane o reflexo de uma banda que nunca abandonou suas raízes, mesmo quando explorou/explora novos territórios musicais. 

E mesmo com diferenças de produção em cada álbum, com Rick Rubin e Chris Tsangarides assumindo o papel nos primeiros álbuns e com Jason Edwards e a própria banda nos trabalhos mais recentes, esse contraste nas composições com a abordagem mais orgânica jamais chegou a ser efetivamente afetada.

A formação original também é um fator essencial nessa qualidade toda e no jeito tão particular que a banda soa sendo central para na identidade das músicas — a química entre Edwards e Bayley, em particular, define o equilíbrio entre agressividade e humor. 

Live Fast, Die Fast (1989)

Primeiro álbum oficial, produzido por Rubin, “Live Fast, Die Fast” trouxe um som mais polido sem perder a essência caótica da banda com ênfase direta nos riffs e nos vocais mais. Destaques como "I Like It Hot" e "Manhunt" combinam letras humorísticas com grooves contagiantes. É o disco que mostra, de fato, o bom humor do grupo e em como uma banda que não se levava a sério, em contraste com o metal "sombrio" dos anos 1980, pode oferecer alta qualidade musical.

Down Fall the Good Guys (1991)

Desta vez produzido por Chris Tsangarides e com produção mais refinada, "Down Fall the Good Guys" expandiu o alcance sonoro da banda. "Ezy" (um hino sobre rebeldia) e "Paint the Town Red" (com seu riff memorável) se tornaram clássicos. Apesar disso, o Wolfsbane ainda lutava para alcançar o mainstream, possivelmente por seu humor irreverente não se alinhar ao metal mais "sério" da época, mesmo com um álbum considerado o auge criativo da fase inicial da banda.

Wolfsbane (1994)

Último disco da banda antes da saída de Blaze e com produção de Mick Glossop, o terceiro álbum homônimo da banda trouxe uma mudança de tom, com letras mais introspectivas e experimentações sonoras. "Lifestyles of the Broke & Obscure" e "Seen How It's Done" mostram uma banda mais madura, mas ainda mantendo a essência divertida em faixas como "Protect and Survive". Mesmo com a produção Glossop dando mais espaço às texturas da guitarra, o álbum acabou sendo ofuscado pela saída iminente de Bayley para o Iron Maiden. “Wolfsbane” é um disco que divide opiniões, alguns fãs o veem como subestimado, outros, como uma despedida meio apressada.

Wolfsbane Save the World (2012)

Após 18 anos de hiato, o Wolfsbane finalmente retornou com um álbum que resgatou seu espírito original, "Wolfsbane Saves the World". Produzido pelo próprio guitarrista, o disco traz algumas músicas antigas que nunca haviam sido gravadas, como "Blue Sky", escrita nos anos 1990, e novas composições. É um disco que soa como uma continuação natural de "Down Fall the Good Guys", mas com letras mais reflexivas. Além disso, a recepção foi muito positiva, especialmente entre os fãs mais fiéis.

Genius (2022)

Até então o último e mais recente álbum da banda, “Genius” é considerado como o trabalho mais coeso do grupo. Músicas como "Spit It Out" e "Good Time" combinam riffs pesados com letras inteligentes, enquanto "Rock City Nights" traz uma pegada mais bem humorada da banda dos anos 1980. Dessa vez com produção da própria banda, o grupo teve maior liberdade criativa deixando os membros livres para brincar com suas composições. O álbum é a prova que o Wolfsbane ainda tem relevância, mesclando nostalgia com modernidade.

Tradição, atitude e paixão intactas

A história do Wolfsbane é marcada por altos e baixos, mas também por uma lealdade feroz de seus fãs que veem no grupo a representação clássica de um heavy metal despretensioso e divertido. 

E apesar de nunca terem atingido o estrelato de uma penca de outras bandas de sua época, o legado de Blaze Bayley, Jason Edwards, Jeff Hately e Steve "Danger" Ellett ainda persiste como um exemplo de autenticidade e resistência — uma banda que, mesmo depois de décadas, continua fazendo seu nome com uma atitude inabalável.

Sua base de fãs também permanece leal e crescendo, assim como sua influência sendo reconhecida a cada ano por bandas novas que buscam inspiração em um metal/hard rock despretensioso e cheio de atitude.

Atualmente, o Wolfsbane mantém atividades esporádicas, focadas principalmente em shows isolados, muitos festivais e, volta e meia, projetos especiais, enquanto seus integrantes também seguem carreiras paralelas. Tudo isso enquanto ainda continuam “pintando a cidade de vermelho”.


Comentários

Postagens mais visitadas