KARMA TO BURN (K2B) DISCOGRAFIA


Por Felipe Leonel


Seja qual for o gênero ou mesmo as características e nuances de seu som, quando a música de uma banda pega para valer no coração, pode ter certeza de que aquele/aquela fã será fã pra sempre. O que, acredito eu, seja o meu caso aqui. Sempre me pego imaginando se daqui a 40 anos (caso esteja vivo) ainda estarei tão fascinado e tão viciado em tudo o que o Karma To Burn criou e deu ao mundo em toda a sua discografia. 


Fechando a trinca de bandas de stoner que me cativam já à uns bons anos, e que me trazem de volta a sua discografia completa duas ou três vezes ao ano (sim, escuto com muita frequência), o Karma To Burn me paga muito pela sua vibe fora dos padrões até mesmo dentro do próprio estilo, já que oferecem misturas inusitadas de jazz, blues e rock clássico. 


Formada pelo guitarrista William Mecum em meados dos anos 1990, o Karma To Burn nasceu na cidade de Morgantown, Virgínia Ocidental (West Virginia) nos EUA. A banda também contou em sua formação original com os músicos Eric Clutter no baixo e Evan Devine na bateria. Sua característica principal, e bastante clara em relação às outras duas já citadas aqui no blog, é o seu som instrumental super descompromissado, que traz a mistureba tradicional do estilo com uma série de outras influências. 

Entre o público geral ouvinte de stoner e para os fãs da banda, o Karma to Burn se destaca principalmente pelo seu som instrumental intransigente e instigante. Essa característica fica bastante aparente já no nome do grupo, originário de uma nota no álbum “Desire” (1976), do Bob Dylan, que diz "I have a brother or two and a whole lot of karma to burn..." (Eu tenho um ou dois irmãos e muito carma para queimar…).

Com mais de 20 anos de carreira, o grupo teve algumas idas e vindas, entre lançamentos de discos (sejam eles álbuns ou EPs), turnês pelos EUA e Europa e apresentações ao vivo esporádicas. A história da banda também pode ser divida em duas fases nem tão distintas assim, sendo a primeira entre 1997 à 2002, que gerou três álbuns, sendo o primeiro deles com um vocalista. Depois de uma pausa bem longa, em 2009 voltaram a se reunir para algumas apresentações contando por algum tempo com o vocal de Daniel Davies, do Year Long Disaster, e retornando como um trio pouco tempo depois.

Essa segunda fase gerou novos álbum e engordou bastante a discografia da banda com os discos “Appalachian Incantation" (2010), "V" (2011), "Slight Reprise" (2012) e "Arch Stanton" (2014), além do EP "Mountain Czar” (2016) que conta com uma versão cover de ‘Running down a Dream’ da banda Tom Petty & the Heartbreakers, aqui rebatida de ‘Uccidendo Un Sogno’ e sendo cantada totalmente em italiano interpretada pela vocalista e guitarrista Stefanie Savy (também italiana).

K2B: 1ª Era (1997 à 2002)

A chamada primeira fase do Karma To Burn, foi marcada por uma produção intensa de músicas e uma série de apresentações em casas de show na cidade de origem da banda. Mesmo com suas demos circulando entre o público cativo, o grupo sentiu bastante dificuldade em levar sua música a um patamar mais alto naquele momento. Entre suas tentativas de autopromoção, era comum o grupo telefonar para diversas gravadoras enquanto se fingiam ser de outras bandas que ouviram a “interessante” Karma To Burn tocando por aí.

Eventualmente, acabaram chamando a atenção da Roadrunner Records conseguindo um contrato ainda em 1996. Naquele ponto, o grupo planejava lançar um álbum inteiramente instrumental, mas a gravadora acabou insistindo que o contrato só era válido com a condição de que um vocalista fizesse parte da formação. Nessa conversa toda, acabaram concordando com o pedido e, após indicação de John Garcia, frontman da banda Kyuss e amigo do K2B, contrataram o vocalista Jay Jarosz para o cargo. 

Seu primeiro álbum, autointitulado “Karma To Burn”, foi lançado no ano seguinte em 1997 e apresentou número bastante baixo de vendas, apesar da aclamação da crítica especializada. Esse fator fez com que a banda despedisse Jarosz do cargo ao mesmo tempo em que também perdia seu contrato com a gravadora. 

Isso não impediu a banda de continuar a produzir seus discos. Com uma reformulação de boa parte de seu primeiro álbum, retirando as letras e retrabalhando parte das músicas, o grupo lançou “Wild Wonderful Purgatory” em 1999 e “Almost Heathen” em 2001 pelo selo Spitfire Records, ambos já como álbuns totalmente instrumentais.

Em meados de 2002, o Karma To Burn decidiu se separar de forma não oficial devido à saída do baixista Rich Mullins, que havia recentemente se juntado ao grupo Speedealer. Até 2008, cada membro do K2B fez parte de outras bandas, com Mullins se tornando também baixista do Year Long Disaster, Oswald na bateria do Nebula e Mecum como guitarrista do Treasure Cat.

K2B: 2ª Era (2009 à 2010) - A Reunião

No dia 23 de fevereiro de 2009, o Karma To Burn anunciou oficialmente seu retorno ao palcos, e com a mesma formação de quando haviam se separado. O retorno trouxe uma turnê extensa por todo os Estados Unidos e Europa que incluiu uma série de apresentações em festivais grandes, como o Download Festival e Sonisphere Festival como atração principal do palco Jägermeister. 

Em 2010, o grupo entrou como banda de apoio/abertura para outra grande do stoner rock, The Sword, em sua turnê de inverno pelos EUA e também na Europa no ano seguinte. Com um sucesso de público e datas que não acabavam mais, o grupo decide entrar em estúdio novamente. Nesse ponto, já com um disco praticamente completo e composto durante a turnê.  

Produzido por Scott Reeder, ex-baixista do Kyuss, pelo selo Napalm Records, o álbum “Appalachian Incantation” é lançado em abril de 2010 e tem como surpresa duas faixas com vocais, ‘Waiting on the Western World', com o vocalista e guitarrista do Year Long Disaster, Daniel Davies, e 'Two Times', com o ex-vocalista do Kyuss, John Garcia. 

Mesmo com essas duas belas surpresas, o disco ainda se destaca principalmente pelas suas composições instrumentais divididas em um álbum duplo, com o segundo disco levando o nome de “Cat Got Our Tongue”. O álbum também apresenta duas composições regradas e atualizadas do grupo, sendo as músicas “20” e “30”. 

O álbum gerou uma turnê de divulgação pela Europa logo após seu lançamento, incluindo uma temporada de nove datas no Reino Unido com o apoio/abertura do Year Long Disaster. Nos shows do YLD, todos os três membros do K2B faziam participações em algumas músicas ao mesmo tempo em que Davies também entrava como guitarrista e vocalista ocasional.

Em fevereiro de 2011 é lançada a sequência de “Appalachian Incantation”, o álbum “V”, dessa vez pelo selo Spinning Goblin Productions. O disco foi inteiro gravado no Studio 606, do guitarrista/baterista/vocalista Dave Grohl, e também inclui os vocais de Davies em três músicas, ‘The Cynics’, ‘Jimmy D’ e na cover “Never Say Die", do Black Sabbath. Mesmo tendo feito parte da banda durante um período de apresentações e gravado alguns materiais com o K2B, Davis acabou deixando o grupo no mesmo ano. “V” foi seguido por uma nova e extensa turnê pelos EUA e Europa. 

Sendo o penúltimo álbum completo da banda, em 2012 é lançado o disco ‘Slight Reprise”, mas uma vez por um selo diferente, dessa vez pela Maybe Records. O álbum retorna aos trabalhos totalmente instrumentais planejados pelo grupo no passado sem nenhuma composição com vocal e totalmente gravado apenas como um trio. Durante a turnê europeia de divulgação, o baterista Rob Oswald acabou saindo da banda, sendo substituído por Evan Devine da banda de metal Ancient Shores. 

Em 2014, é lançado oficialmente o último álbum de estúdio do K2B, “Arch Stanton” pelo selo FABA/Deepdive Records. O álbum foi inteiramente composto por Mecum e gravado como uma dupla, mantendo apenas Devine como baterista fixo. Devido a isso, tanto os clipes de divulgação do álbum quanto os materiais audiovisuais do EP “Mountain Czar” (2016) tiveram apenas a aparição de Mecum.

O fim oficial do K2B

Em 29 de abril de 2021, é anunciada a morte do guitarrista Will Mecum pelo ex-baterista do grupo, Rob Oswald, após sofrer ferimentos traumáticos na cabeça devido a uma queda acidental em sua casa. Mecum ele era o último membro fundador e remanescente na formação da banda que também anunciou seu fim com a morte do músico.

Ainda que seja uma das minhas três favoritas do coração, junto com Cowboys & Aliens e Mississippi Bones, desde a sua criação em 1996, Karma To Burn se transformou e um dos pilares do movimento do stoner rock mundial, colocado no mesmo pedestal da já citada Kyuss e lado a lado de Clutch e Monster Magnet. 

Super diretos e absurdamente imaginativos, o K2B foi capaz de criar um som próprio totalmente identificável que pode ser associado a trilhas de atmosferas e com passagens mais complexas, além de uma abundância exuberante de riffs enigmáticos.

Em toda a sua pomposidade sonora, o trio estadunidense conseguiu trazer uma perspectiva diferente ao gênero stoner e ainda conquistar uma base absurdamente sólida de seguidores e, principalmente, fãs por todo o mundo influenciando muitas outras bandas que fizeram e ainda fazem jus enquanto seguem seus passos. 

Álbuns:

  • Karma to Burn (1997)

  • Wild, Wonderful... Purgatory (1999)

  • Almost Heathen (2001)

  • Appalachian Incantation (2010)

  • V (2011)

  • Arch Stanton (2014)

  • Mountain Czar (EP, 2016)

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