Cowboys & Aliens Discografia

SESSÃO M

Por Felipe Leonel

                           

Seguindo a lista das três bandas que havia comentado no texto sobre Mississippi Bones, essa em especial foi à primeira do estilo que escutei mais profundamente, passei vários meses ouvindo de cabo a rabo a discografia completa, do começo ao fim e praticamente sem pausa. Meus trabalhos de faculdade do primeiro ano tiveram como trilha sonora Cowboys & Aliens (não confunda com o filme e o gibi, por favor) tocando ininterruptamente no PC, e claro, no celular a caminho da faculdade, foram dois anos - sim, dois anos - sem conseguir escutar muito mais outras bandas além de C&A. Recheou até mesmo momentos mais pessoais enquanto acompanhado, boas lembranças. 

Nascida em Bruges, Bélgica, em 1996, pelas mãos do guitarrista John Pollentier, tem como ponto forte seu estilo, Stoner Rock. Pesado, melódico e cheio de riffs matadores, a banda cadencia entre baladas nada convencionais, letras dos mais variados temas e uma harmonia vocal de primeira. A proposta inicial de Pollentier era de criar uma banda com som alternativo o que acabou mudando com a entrada do baixista Kris Vandekerckhove ramificando suas produções para algo mais pesado influenciado por Black Sabbath. O toque de mestre veio com a entrada de Henk Vanhee nos vocais, a mistura de guitarras swingadas, mais peso e a voz de Vanhee, lembrando um bocado John Garcia do Kyuss, deu certo. Estilo batizado pela própria banda como groove rock, o termo se encaixa muito bem nas regras do que os caras fazem. 

       

Seu primeiro registro, o EP League Of Fools, lançado em 1997, já da uma boa ideia do trabalho de composição da banda. O disco é bem experimental e cru em comparação ao restante do material lançado posteriormente, ainda sim, não é o menos importante da discografia. Mais leve e cadenciado, leva uma identidade bem tradicional de primeiros registros, ainda não tem a "cara" da banda, mas tem a atitude. A lista segue com boas composições “After Sun And Rain”, “(I Feel) Hollywood” abrem bem o disco, “League Of Fools”, música título e “Always This & That”, tem presença e marca bastante na cabeça, “Put Me Down (When You Tuck Me In”), “Head Clean”, seguem bem até o desfecho, “Cowboys & Aliens”, fecha o disco e deixa uma boa sensação de tempo bem gasto.

Marco na história do rock belga, A Trip To The Stonehenge Colony, de 2000, lançado pelo selo BuZZville, é um álbum sólido, pesado e sentimental. Não sei dizer exatamente qual das músicas se destaca no disco, todas elas são ótimas, ainda sim tenho minhas favoritas. "Let Me Walk You Home" me deixa sempre uma sensação boa e triste ao mesmo tempo, passei por um período muito bom em que essa faixa fazia as vezes de trilha sonora para esses momentos, mexe bastante comigo. A outra, "Asteroid Blast" é uma emoção a parte, o riff inicial é sentimental, me lembra alguma música de Sir Elton John. "Share The Goods" e "Holy Stone" fecham as preferencias, são a injeção de influências do disco, tem uma pegada Black Sabbath, meio Hawkwind. Completando o álbum, "Bad Sexx", "Blow Your Past (To Smithereens)", "Mickey Mouse, Evil Head", "Demolition Derby Babe", "Blow Your Past", composições certeiras, melódicas e intimistas. Fechando o disco, "Cruiser", pesada e rápida, um dos riffs mais fodas. Aqui para sentir a diferença e evolução do debut, tanto nas letras quanto nos próprios vocais, mais soltos e despreocupados, "A Trip to" ganha mais a cara da banda. 

Batizado de Love, Sex, Volume e lançado em 2002, o segundo álbum do C&A, continua com o belo trabalho de seu predecessor. Uma continuação perfeita de “A Trip To”, o disco não deixa nada a perder e traz composições ainda mais bem trabalhadas. “Ghost In My Speaker” -única música de toda a discografia a ganhar um vídeo clipe-, “Burning By The Look” e “Killin' Time”, são as mais "grudentas", chamam a atenção pelas linhas vocais e tratamento das guitarras, minhas favoritas do disco. “Sharp Dressed Man”, vem quase como uma surpresa, uma regravação de ZZ Top, faz jus a criatividade da banda, ainda que um cover, é uma bela versão. “Out Of Control”, “Simple Things”, “Highly Overrated”, “U Draw The Line”, “Fool 4 Love” completam o álbum sem pormenores, novamente, ótimas composições, “Sabbatical, Resurrection Song” fecha o disco. 

Para não ficar repetitivo, posso usar as mesmas palavras usadas em L.S.V para descrever Language Of Superstars, de 2005. Concebido com uma verdadeira paixão pela música pesada, C&A alcançou um novo nível com esse disco. Nada nesse álbum fica perdido, ou deslocado. O disco, novamente, tem seus destaques “Moving Target”, “Another Fine Display”, “Pissing Me Of” e “Time Caesar”, que fecha o álbum. Completando a lista, “Language of Superstars”, “Heart, Body & Soul”, “Kinda Breathtaking”, “Waiting at the Gates”, “Remember My Name”, “Napalm Beach” e “Better Believe”, da pra ter a certeza de um material de primeira sem discussão.

Os EPs Sandpaper Blues Knockout (foi com ele que descobri a banda) e Surrounded By Enemies, lançados em 2012 e 2014, respectivamente, o primeiro com quatro músicas, o segundo com seis, são os mais rápidos e pesados da discografia, com riffs que remetem bem mais ao stoner rock tradicional, são os discos que menos lembram as composições anteriores, ainda sim, sem perder o carisma e a personalidade demonstradas até então. Sandpaper entrega em disparada uma tonelada de riffs inteligentes, “In My Time” abre com perfeição e te prepara para bater cabeça, “Worth Your While”, “Sign Of The Omen” revezam entre velocidade e melodia, “Question Vs Answer” fecha o disco e entrega com força total um ótimo álbum. Surrounded, não fica atrás e joga com as mesmas cartas, leva a mesma assinatura de composições, pesadas e rápidas. Seguindo a ordem do álbum, “Surrounded By Enemies”, “It's Not The Booze”, “Larger Than Life”, “So Long, My Friend”, “Goldrush” e “Different Angle”. Não da para dizer que tenho músicas preferidas nesses dois discos, as composições são obras-primas, simplesmente isso. 

Evitando os clichês das grandes bandas, C&A é uma brisa de ar fresco para os fãs de música pesada, isso vale para os críticos do estilo. Inspirados pelo rock clássico, Led Zeppelin, Thin Lizzy, a já citada Black Sabbath e um punhado de outros pioneiros como Monster Magnet, Kyuss, Queens of the Sone Age, Cowboys & Aliens tem ajudado a pavimentar a estrada do rock, cheio de liberdades, inseguranças e incertezas, do jeito que a música deve ser. 

Discografia:

(1997) League Of Fools (EP)

(2000) A Trip To The Stonehenge Colony 

(2002) Love, Sex, Volume 

(2005) Language Of Superstars 

(2012) Sandpaper Blues Knockout (EP)

(2014) Surrounded By Enemies (EP)

John Pollentier - Guitarra

Henk Vanhee -Vocais

Kris Vandekerckhove - Baixo, Backing vocals

Peter Gaelens - Bateria