Exterminador do Futuro - Terra em Chamas (1990)

Por Felipe Leonel
Falar de Exterminador do Futuro é como chover no molhado. Tudo o que se pode ser dito sobre a franquia você encontra fácil em tudo quanto é lugar. E são informações que vão desde curiosidades de produção, inspirações de roteiro, dificuldades de produção, escolha de elenco, até o por que existem tantas continuações.
E esse monte de informações não é só sobre as produções para cinema, já que a franquia também ganhou uma penca de jogos digitais, novelização, animação, atração em parque de estúdio e, claro, histórias em quadrinhos, muitas histórias em quadrinhos.
Mas antes de tudo isso, principalmente das continuações pra telona e quadrinhos, em 1990 era lançado um dos materiais menos falados dentro do universo da Skynet contra a raça humana, “Exterminador do Futuro - Terra em Chamas” (Terminator: The Burning Earth) com roteiro de Ron Fortier e arte de Alex Ross.
Essa foi a primeira produção a trabalhar com os personagens do filme de 1984, dirigido por James Cameron, fora do cinema e continuando a trama do longa em uma abordagem bem mais experimental.

A batalha contra as máquinas em uma visão diferente
Ambientada em 2041, 40 anos após o início da guerra contra as máquinas (?), "Terra em Chamas" mostra uma humanidade reduzida a 3% de sua população. Aqui, a Skynet planeja um ataque nuclear final, enquanto a Resistência Humana, ainda liderada por John Connor (apelidado na trama de "Bear"), planeja invadir a base central da IA que está escondida na antiga instalação do NORAD, chamada de Thunder Mountain.
A Resistência aqui se divide em dois grupos, um pronto para atacar o mainframe físico de Skynet, liderado pelo próprio John Connor, e outro preparado para destruir sua fonte de energia a fim de desencadear uma erupção vulcânica na montanha.
Ao mesmo tempo em que os grupos se dividem em sua respectivas missões, a Skynet envia Exterminadores altamente avançados, incluindo Aurora, um modelo feminino com armadura adaptativa e táticas letais (uma versão feminina precursora da T-X apresentada em Terminator 3) para eliminar os membros invasores.
Em seu desfecho, o grupo de invasão ao mainframe consegue desligar a Skynet, mas acaba deixando no ar que alguns modelos de Exterminadores ainda permanecem ativos, deixando a vitória da Resistência bastante ambígua e sugerindo que a guerra poderia continuar — um gancho que nunca chegou a ser explorado em sequências.

O humano vs. o mito do salvador
Ainda que seu final deixe alguns questionamentos, "Terra em Chamas" mostra uma trama bastante auto conclusiva e centrada nos elementos apresentados em The Terminator (mesmo com seus furos). Sua arte também valoriza muito mais a atmosfera sombria e a ação do que apresenta uma complexidade narrativa.
Na minissérie, John Connor é retratado como um líder já bastante cansado e humanizado que, em uma cena dramática bem no começo, chega muito perto de cometer suicídio, refletindo o peso psicológico de tantos anos nessa guerra contra as maquinas.
A trama também apresenta algumas evoluções em relação ao seu predecessor no cinema, ignorando vários elementos chave para o filme, como viagem no tempo e próprio Kyle Reese, focando em um futuro pós-apocalíptico muito mais a frente ao envio de Reese ao passado e apresentando Connor muito mais como um soldado do que um estrategista mítico ou figura messiânica.
E ao contrário do longa de 1984, aqui a Skynet é mostrada como uma entidade palpável, com um núcleo físico vulnerável e não como uma rede neural descentralizada e espalhada por todo o mundo.

Ainda vale a pena ler "Terra em Chamas"?
Mesmo tendo sido considerado um quadrinho um tanto simplista, com furos em seu roteiro (a Skynet só usa armas nucleares novamente após 40 anos de guerra?), diálogos excessivamente formais e com pouca profundidade de alguns personagens, como da Exterminadora Aurora que tem mínima relevância pra trama, "Terra em Chamas" teve uma boa aceitação dos fãs da franquia e críticas medianas.
Aqui também arte oscila em qualidade, com páginas mais detalhadas que outras e diferenças significativas de cores e iluminação devido aos prazos apertados que Ross teve que acompanhar. Ainda assim, essa HQ é considerada ambiciosa para um estreante, com layouts dinâmicos e design ameaçador para os Exterminadores.

Entre os elogios, o estilo de desenho de Alex Ross, mesclando realismo cinematográfico inspirado no filme e com muitas experimentações, ganharam as graças dos leitores. Ross admitiu anos depois que o rosto de Connor apresenta alguns dos traços de Linda Hamilton, atriz que interpretou Sarah Connor em 1984, não somente para criar uma ideia narrativa mais interessante, mas também por admiração à atriz.
A ideia de jogar a trama para o futuro e a perspectiva de não mostrar elementos que já haviam sido contados no longa também agradou bastante, mesmo com o estilo de narrativa de Ron Fortier. Em meio aos erros e tentativas, a minissérie merece ser lida e apreciada da melhor forma.
O quadrinho que sobreviveu ao esquecimento
Ainda assinando como Alexander Ross, em seu primeiro trabalho nos quadrinhos e com apenas 19 anos de idade, "Terra em Chamas" foi publicada originalmente pela NOW Comics – com relançamentos posteriores pelas editoras iBooks (2004 e 2006) e Dark Horse Comics (2013) – em uma minissérie de 5 edições.

No Brasil, o quadrinho ganhou sua publicação em novembro de 2018 pela editora Mythos, sob o título "Exterminador do Futuro - Terra em Chamas". A edição nacional reúne as cinco edições originais da minissérie em um único volume. Atualmente, a edição está esgotada na maioria das lojas físicas, mas pode ser encontrada à venda de forma online ou sebos.
Para fãs da franquia Terminator e admiradores de Alex Ross, "Terra em Chamas" é um marco histórico e um prato cheio de detalhes que misturam a ambição artística de um jovem e as limitações de uma produção quase pioneira.

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