"Batman: A Piada Mortal" completa 30 anos em 2018
Fora da Caixa |
Por Felipe Leonel
"Quando o mundo está cheio de PREOCUPAÇÃO e todas as manchetes gritam AFLIÇÃO, quando tudo é ESTUPRO, FOME e GUERRA, bem... então só há uma coisa certa a fazer e eu vou ensinar pra você saber... você deve SORRIIIIR... se você começar a olhar as pessoas meio irado, é sinal de que está ficando INTEIRO pirado...”
Encabeçando uma extensa lista de "melhores HQs de todos os tempos" de tudo quanto é fã pela internet a fora, junto de 'Watchmen' e 'Cavaleiro das Trevas', claro, 'Batman: A Piada Mortal' ganhou seu reconhecimento graças a escrita detalhista e perfeccionista do escritor britânico Alan Moore, com arte de Brian Bolland e cores de John Higgins. Promessa dos quadrinhos ainda na juventude durante os anos 80, Moore saia de suas habituais histórias de ficção cientifica e distopias dos quadrinhos britânicos para se aventurar nas revistas de super-heróis da DC Comics nos EUA. Após passar pelas series Monstro do Pântano, Superman e sua mais épica novela, Watchmen, caiu de cabeça em um trabalho curto e mais centrado em um único personagem, o Coringa.
Aprofundando-se mais ainda na insanidade do vilão, Moore trouxe a tona temas ainda não utilizados até então nas histórias do Batman abordando a natureza humana do personagem como ponto chave da trama, e mais do que isso, revelou, o que é para muitos ainda hoje, a origem definitiva do Coringa. Foragido do Asilo Arkham, Coringa tenta provar de todas as formas que com apenas um único "dia ruim" na vida de alguém pode transforma-la em algo semelhante ao que ele mesmo se tornou e para isso irá provocar um dos aliados mais fortes de Batman, o próprio comissário Gordon. A história narra simultaneamente flashbacks da vida do vilão antes de sua mudança, ainda como o comediante fracassado e falido Jack Napier depois de uma tragédia pessoal.
"Mas o que quero dizer é... eu fiquei LOUCO.
Quando vi que piada de mal gosto era este mundo, preferi ficar louco.
Eu admito. E você?"
Figurado apenas como um desequilibrado sem passado, uma contraparte cômica de Batman por tantos anos desde sua criação nos quadrinhos, Coringa é mostrado aqui em uma forma mais humana e mais intensa, um humilde comediante desempregado, ex-funcionário de uma fábrica de químicos correndo atrás de sua carreira de comediante e tendo que sustentar uma esposa amável grávida do primeiro filho do casal. No entanto, um dia ruim foi o que causou toda a ruína de sua vida, a morte de sua esposa e o convite de dois criminosos para assaltar seu antigo emprego na fábrica.
Referencial máximo da história, Gordon é mostrado como a grande questão da trama. Se para o Coringa, e até mesmo Bruce Wayne, bastou apenas um único dia ruim para que eles enlouquecessem completamente, por que Gordon não chegou ao mesmo ponto de insanidade que os dois? O que move essa força de vontade tão grande do Comissário? É aqui que o autor aproveita para narrar de forma mais intensa os questionamentos do Coringa o colocando em um ponto crucial da trama, a sua própria sanidade, posicionando o personagem em uma condição de aceitação, no caso, a auto defesa da sua covardia caindo de cabeça na segurança de sua loucura sem querer aceitar suas dolorosas lembranças de vida. Passagens importantes marcam a HQ. A tentativa de assassinato de Barbara Gordon, que acaba paralisada da cintura para baixo, o pequeno momento de sanidade e história de origem do vilão em flashbacks, e claro, o final icônico e ambíguo da HQ.
Tão polemica quanto sua própria persona, Alan Moore cria em “A Piada Mortal” uma trama recheada de emoção, loucura e humanismo e constrói uma nova perspectiva para um dos vilões mais perturbados e conhecidos das histórias em quadrinhos. Impecável, Brian Bolland traz mais credibilidade a narrativa brincando com seu traço durante as mudanças temporais, entre passado e presente, mesclando sua arte junto as cores de John Higgins criando uma atmosfera particular para cada época ressaltando a violência e calmaria em suas transições.
"Só é preciso UM dia ruim"
Com histórias marcantes e icônicas, 'Batman Ano Um', o seminal 'Cavaleiro das Trevas' e ainda que um coadjuvante em 'A Piada Mortal', a figura de Batman ganhou uma importância muito maior nos quadrinhos durante os anos 80, perdendo sua imagem cômica e renascendo como um herói obscuro e perturbador.
Em 2016, ganhou uma adaptação animada pelas mãos da Warner Bros. dividida em duas partes, uma acrescentando ao longa um pequeno prelúdio original mostrando um pouco da relação da Batgirl (Barbara Gordon), ainda durante seu período de vigilantismo, com o próprio Batman e outra seguindo a risca a trama da HQ.
Quer ler essa graphic novel? Acesse o link e baixe em CBR em português.
Batman: A Piada Mortal (2016) Trailer
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