Crypta (DEATH)

Por Felipe Leonel

Seja qual for o cenário musical ou década em si, conforme o tempo passa e as bandas do momento começam a entrar pra galeria das “bandas clássicas”, uma nova leva de grupos volta a aparecer e, normalmente, com sua cartilha de influências ainda mais recheadas. Outro fator que ajuda bastante no nascimento de novas bandas, são as trocas de membros ou dissipações entre os músicos, elemento esse que acaba fazendo com que o que era uma única banda, se torne duas, talvez até três, ou mesmo quatro bandas.

E foi por uma separação de membros o motivo da concepção e nascimento de uma das bandas com maior destaque no cenário do metal nacional desde 2020. Após o desgaste na relação com Prika Amaral, guitarrista e líder da Nervosa (vale aqui um texto completo no futuro sobre essa banda de thrash da mais alta qualidade), que Fernanda Lira, baixista e vocalista, e Luana Dametto, baterista, saem do grupo e decidem formar sua própria banda, a Crypta. 

Uma ode perfeita ao death metal, a Crypta foi formada na cidade de São Paulo (Capital) e, além das musicistas já citadas, completam o time às guitarristas Tainá Bergamaschi e Jéssica di Falchi, tendo originalmente a guitarrista holandesa Sonia Anubis, ex-Burning Witches e atual Cobra Spell, em sua primeira formação (sendo substituída por Jéssica depois), uma peça-chave pra composição, gravação e divulgação do primeiro disco, mesmo com seu pouco tempo de banda. 

O death metal que expandiu na cena

Desde o anúncio oficial da uma nova banda, dava início dentro da comunidade metal um estardalhaço absurdo e muito, mas muito eufórico. Entre os motivos, além de um grupo formado por pessoas de grande talento, já visto em três discos da Nervosa, o estilo principal da Crypta era o death metal, o que supria um pouco da falta de bandas do gênero no mainstream nacional. Outro motivo era que a gravadora Napalm Records anunciou pouco tempo depois que lançaria o álbum de estreia delas, ou seja, com uma gravadora de calibre, essa podia ser a prova de que a banda era realmente boa.

Ainda que predominantemente uma banda de death metal, a Crypta também apresenta uma série de influências musicais tanto de thrash metal quanto de black metal, tudo isso caracterizado por riffs absurdamente rápidos e pesados, assim como vocais guturais, gritados e com muitos rasgados, além de uma seção rítmica extremamente forte e precisa. As músicas também apresentam letras com temáticas sombrias, abordando tópicos como a mortalidade, escuridão interior e questões existenciais, e o mais legal, saindo do clichê, mas sem ir muito longe dele. A exemplo disso, o primeiro single, "From The Ashes", fala sobre a história da mitológica ave fênix, sobre suas mortes e renascimentos. 

Discografia

Echos of the Soul”, primeiro trabalho da Crypta lançado pelo selo Napalm Records, é uma obra-prima logo de cara se destacando muito pela sua intensidade e coesão musical, mas principalmente pelos trabalhos de composição de excelência, com músicas absurdamente marcantes. Entre as faixas de maior destaque (quase um pecado dizer que isso, considerando que o disco inteiro já é o destaque) incluem ‘From the Ashes’, ‘Starvation’ e ‘Dark Night of the Soul’.

“Echoes (...)” foi inteiramente gravado em São Paulo, no estúdio Family Mob, do baterista Jean Dolabella (Ego Kill Talent, ex-Sepultura) e do fotógrafo Estevam Romera. Sua mixagem foi feita por Arthur Rizk (Code Orange, Powertrip) e masterizado por Jens Bogren (Opeth, Dimmu Borgir, Sepultura). Além disso, a arte da capa foi criada por Wes Benscoter, também ilustrador de capas icônicas de bandas como Slayer, Kreator e Black Sabbath.

Ao contrário de seu processo de composição, feita a distância e por videochamada entre as integrantes, durante as gravações, o disco teve a presença de Sonia junto a suas companheiras ao longo de todas as etapas. O álbum ganhou seu lançamento oficial no dia 11 de junho de 2021. 

Seguindo na esteira de seu debut, "Shades of Sorrow" é lançado já em 2023, no dia 4 de agosto, e  também pela Napalm Records. O álbum dá continuidade ao trabalho  intenso de produção e composição da banda, trazendo uma sonoridade ainda mais madura e elaborada que seu predecessor e jogando a régua lá estratosfera. 

Ainda que não tenha botado a mão efetivamente nas composições das músicas, Jéssica oferece um trabalho de criação dos solos de maneira magistral e consegue trazer uma duplicidade ainda melhor junto a Tainá em suas dobradinhas de guitarra. Outro detalhe é que, mesmo tendo sido gravado no mesmo estúdio, tanto banda quanto produtor foram capazes de apresentar uma produção ainda mais refinada. 

Entre os destaques de "Shades (...) (de novo, um pecado dizer isso desse disco), estão as faixas ‘The Other Side of Anger, com sua introdução e vocais avassaladores, ‘Lord of Ruin’, combinando elementos de death e black metal com uma atmosfera sombria e introspectiva e ‘Trial Of Traitors’, com destaque nos vocais rasgados de Fernanda Lira. 

Tours e Performances

Como parte promocional de divulgação de ambos os discos, a Crypta entrou em turnê rapidamente, com shows por todo o mundo, tanto em apresentações como banda principal quanto em grandes festivais, alguns deles até mesmo como headliners, consolidando ainda mais sua presença na cena metal global. E além de álbuns memoráveis, um dos destaques da banda são suas performances energéticas e super dedicadas, assim como uma execução impecável de cada uma de suas músicas.

Impacto e Influência

Desde sua formação, a Crypta ganhou destaque na cena metal por uma série de elementos, mas principalmente por suas composições, sendo elogiada também por sua habilidade técnica e pela coesão entre as membros. Quanto ao álbum de estreia, "Echoes of the Soul", além de muito alardeado foi extremamente bem recebido, recebendo elogios internacionalmente e de especialista da cena metal. 

Com “Shades of Sorrow" a coisa não foi muito diferente, na verdade, até melhor. Entre as principais críticas, a banda foi elogiada pela evolução no timing de composição das músicas e em como suas guitarristas conseguiram se adequar ao estilo uma da outra facilmente. A intensidade emocional e a profundidade lírica também foram destacadas como pontos fortes do álbum. 

Em suma, tanto com os dois lançamentos (até agora) quanto pela habilidade demonstrada em estúdio e nos palcos, ajudaram a Crypta a solidificar sua reputação como uma das bandas mais promissoras do death metal contemporâneo e também como uma força emergente no gênero.

Comentários

Postagens mais visitadas