Das HQs para o Cinema - Filmes Famosos de Quadrinhos Pouco Conhecidos!
Por Felipe Leonel
Durante anos, as adaptações de quadrinhos pra cinema e televisão se limitaram apenas a histórias fechadas e, normalmente, de personagens de pouca relevância até mesmo dentro da mídia de papel. Muitas dessas histórias eram sim ótimas, mas de quase nenhum conhecimento de suas origens de quem não está metido diretamente na leitura de gibis.
Com o passar dos anos, e com a ascensão meteórica dos estúdios Marvel, personagens série B do selo, como Homem de Ferro e Homem-Formiga, se tornaram super conhecidos. Até mesmo supergrupos série Z da editora, como os Guardiões da Galáxia, ganharam espaço cativo nos corações do público.
Esse sucesso todo acabou trazendo conhecimento aos espectadores de que suas origens estão diretamente relacionadas aos quadrinhos. E não só isso, atraiu também uma boa quantidade de novos leitores de todas as idades que, curiosos, acabaram encontrando na mídia física uma nova forma de diversão.
Ainda assim, continua existindo uma quantidade imensa de filmes por aí que são adaptações de quadrinhos, que tiveram sucesso de público (alguns pra mais outros pra menos) e que se tornaram, de alguma forma, ícones cult aos olhos de cinéfilos dos mais variados tipos, mas que pouquíssima gente sabe efetivamente que são adaptações diretas dos gibis.
Pra elucidar bem algumas dessas adaptações, decidi criar uma lista curtinha, com 6 filmes bastante conhecidos do público, mas que são praticamente desconhecidos como adaptação da grande maioria da galera, e como dito, até mesmo daqueles mais assíduos espectadores.
Os Homens de Preto
Uma franquia com quatro filmes, uma série animada pra TV e jogos de videogame, “M.I.B - Homens de Preto” pode surpreender muita gente ao descobrir que o conceito do longa original de 1997, estrelado por Will Smith e Tommy Lee Jones, na verdade começou como uma história em quadrinhos.
O que é ainda mais surpreendente é que "The Men In Black", lançada como minissérie em duas partes (dois arcos com 3 edições cada), não é uma comédia como sua contraparte cinematográfica, mas sim uma história de tom bem mais sombrio e com foco não somente em alienígenas, mas também em elementos do sobrenatural.
Lançado pela primeira vez em 1990 pelo selo Aircel Comics, o quadrinho foi criado e escrito por Lowell Cunningham e tem ilustrações de Sandy Carruthers. Sua trama gira em torno de uma agência secreta internacional que tem como missão investigar atividades paranormais na Terra. Entre elas, estão inclusas vida alienígena, demônios, mutantes, zumbis, lobisomens, vampiros e até mesmo criaturas místicas de diferentes mitologias.
A série em quadrinhos também apresenta um estilo visual bastante único, com ilustrações feitas de maneira fora do tradicional pra época, além de misturar ação e narrativa com elementos de diferentes fontes da ficção científica, muitos deles de teorias da conspiração e outros de clássicos da TV e do cinema.
Na trama, os agentes da Homens de Preto tem como padrão manter toda e qualquer investigação feita por eles em completo segredo. Pra manter suas atividades acobertadas, cada agente tem a liberdade de se utilizar de diferentes métodos. Alguns deles incluem, neuralizar uma pessoa, ou seja, apagar sua memória de qualquer interação com os agentes ou fenômenos relacionados a eles, e em outros momentos, a atitude acaba sendo a de neutralizar e eliminar por completo aquele indivíduo, ou seja, matando mesmo.
Entre os membros presentes na história, estão a dupla de agentes Jay e Kay, o chefe da organização Zed e o agente Ecks, que ao decorrer da trama se torna um agente renegado depois de descobrir que os MIB buscam, na verdade, manter suas atividades em segredo a fim de manipular e remodelar o mundo à sua própria imagem.
Quer ler The Men In Black em quadrinhos e descobrir quais são as diferenças entre as duas mídias? Então baixe a série completa por esse link em formato CBR em inglês e boa leitura!
Estrada para Perdição
Outra surpresa na lista, é a graphic novel “Road to Perdition”, que chegou a ser lançada no Brasil pela Editora Via Lettera como “Estrada para Perdição” no já longínquo ano de 2002, atualmente esgotada, infelizmente.
A HQ é escrita por Max Allan Collins e ilustrada por Richard Piers Rayner, e foi originalmente publicada em 1998 pela editora Paradox Press, uma subsidiária da DC Comics. Além de uma trama bastante sombria e com narrativa cinematográfica, o quadrinho também apresenta uma arte bastante realista e atmosférica. Elementos esses muito bem traduzidos posteriormente no cinema.
A história se passa durante a Grande Depressão americana e segue um assassino de aluguel, Michael O'Sullivan, que trabalha pra máfia irlandesa em Chicago. Conhecido como "O Anjo da Morte", por ser um eficiente assassino dos inimigos de seus chefes, O'Sullivan tem sua vida virada de cabeça pra baixo quando seu filho de doze anos, Michael Jr., testemunha um de seus assassinatos colocando ambos em fuga enquanto são perseguidos por um outro implacável assassino, Harlen Maguire.
A história da graphic usa como base alguns vários personagens históricos reais, especialmente o gângster John Patrick Looney, de Rock Island, Illinois. Na vida real, Looney acabou entrando em conflito com Dan Drost, um tenente leal de uma organização criminosa rival e que, durante um conflito, acaba levando à morte do filho de Looney, Connor.
Além dos acontecimentos reais, a trama da HQ também teve inspiração em outros trabalhos, como a série de mangá “Lobo Solitário” (Lone Wolf and Cub) e diversos filmes de gângsteres, entre eles “O Poderoso Chefão” (The Godfather - 1972) e “O Massacre de Chicago” (The St. Valentine's Day Massacre - 1967).
No caso de “Estrada para Perdição”, as diferenças entre quadrinho e o filme de 2002, dirigido por Sam Mendes e estrelado por Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law, são bem poucas, com a adaptação cinematográfica sendo bastante fiel ao material original. Além do filme, a HQ também gerou quatro continuações nos quadrinhos, “On the Road to Perdition”, “Road to Purgatory”, “Road to Paradise” e “Return to Perdition”, todas elas ainda inéditas por aqui.
Se você também se interessou por “Road to Perdition”, então aproveita que tá fácil de ler no digital e baixe agora, na faixa, a HQ completa em inglês!
Marcas da Violência
Adaptada pro cinema em 2005, “Marcas da Violência” tem direção de David Cronenberg e é estrelada por Viggo Mortensen e Maria Bello, além das participações de Ed Harris e William Hurt. O longa contou com orçamento bastante modesto e chegou a receber aclamação da crítica especializada sendo indicado também a dois prêmios da Academia, um deles o de roteiro adaptado. Pois é, roteiro adaptado de uma graphic novel.
"A History of Violence
", no original, é escrita por John Wagner, mesmo criador do personagem Juiz Dredd pra a revista britânica “2000 A.D”, e ilustrada por Vince Locke, com trabalhos que incluem "Sandman", "American Freak" e "Batman", e foi publicada originalmente em 1997, também pela editora Paradox Press.
A trama da HQ acompanha Tom McKenna, dono de uma lanchonete/restaurante em uma cidade rural de Michigan. Sua vida tranquila é interrompida quando Tom defende seu negócio de dois criminosos que tentam assaltá-lo demonstrando certas habilidades de combate enquanto consegue matar ambos durante a tentativa. O acontecimento acaba o tornando um herói local e, pra seu desespero, recebendo também atenção nacional da mídia.
Essa divulgação toda acaba atraindo a atenção de John Torrino, um gângster de Nova York que alega que Tom é na verdade Joey Muni, um antigo membro da máfia com quem ele teve problemas no passado. A presença de Torrino na cidade e a constante insistência do criminoso sobre a vida de Tom colocam em risco a segurança de sua família, esposa e seus dois filhos, em perigo.
A trama da HQ explora muito bem temas de identidade, redenção e, claro, violência, além das consequências de ações do passado. Em sua narrativa, a graphic consegue trazer de forma bastante profunda e emocional todas essas questões, e o melhor de tudo, de maneira absurdamente provocativa.
No quesito adaptação, enquanto a primeira metade do longa é bastante fiel ao material fonte, o restante de sua trama acaba tomando uma série de liberdades com a história. No caso, a trama da graphic se estende bem mais além do que a película propõe, excluindo também personagens importantes apresentados no filme.
Infelizmente a HQ nunca chegou a ser lançada no Brasil, mas pode ser comprada facilmente online na língua original ou mesmo lida digitalmente de forma não oficial em inglês.
O Máskara
Um homem comum encontra uma máscara mágica que lhe concede poderes sobrenaturais, mas também desperta sua persona mais selvagem e caótica. Essa premissa é bem conhecida entre os fãs do filme “O Máskara” (1994) e também de seu intérprete nas telonas, Jim Carrey.
Um sucesso absurdo dos anos noventa, o longa conta com uma soma interessante de humor, tosqueira e muita surtação onde a ação desenfreada se encontra com números musicais, comédia física e romance, tudo isso sem se levar nada a sério. Essa soma toda de elementos feita pras telonas é quase uma antítese do que é apresentado no material original.
Nos quadrinhos, criados por Doug Mahnke e John Arcudi e publicada pela Dark Horse Comics, acompanhamos Stanley Ipkiss que, após encontrar uma máscara de jade em um antiquário enquanto procurava por um presente pra sua namorada, ao usá-la, acaba se transformando no enigmático, super poderoso e super violento ‘Big Head’.
Assim que descobre seus excêntricos poderes e explora suas novas habilidades, Ipkiss sai em uma onda de destruição e brutalidade por toda a cidade, buscando vingança daqueles com quem tem ou já teve alguma rixa e, posteriormente, se tornando um justiceiro sem escrúpulos.
Além do visual icônico do personagem - cabeça verde gigante e dentes enormes - entre as semelhanças de cada obra, apenas os personagens de Ipkiss e do Tenente Kellaway estão presentes em ambas as mídias. O filme adapta apenas o primeiro arco das HQs, originalmente publicada na série de antologia “Mayhem”, em quatro edições, entre maio e setembro de 1989, posteriormente compilada no encadernado “The Mask”, em 1991, com uma edição #0 inédita até então.
Além desse primeiro, a série em quadrinhos ganhou também cinco outros arcos com focos em personagens diversos, entre eles o próprio Tenente Kellaway, sendo elas “The Mask Returns” (1993), “The Mask Strikes Back” (1995), “The Mask: The Hunt for Green October” (1995) e mais recentemente “I Pledge Allegiance to the Mask” (2019), com esse restante todo ficando apenas nas páginas do gibi.
Além do filme, os quadrinhos também ajudaram a criar indiretamente uma série animada do personagem, com três temporadas e um total de 54 episódios, videogames e uma sequência desastrosa do longa original, lançado em 2005.
E se você lembra do filme, da animação, dos jogos e quer descobrir o porque esse personagem continua na memória de muita gente, dá uma lida no material original que você vai sacar logo de cara!
O Procurado
Quando se trata de adaptações que são completamente diferentes do material original, “O Procurado” (Wanted) é o exemplo máximo disso. Criada pelo (muitas vezes discutível) roteirista quadrinista Mark Millar e ilustrada por J.G. Jones, a HQ foi lançada em 2003 pelo selo Top Cow Productions, uma divisão da Image Comics. No Brasil, o quadrinho chegou a ser lançado em duas versões diferentes, uma em 3 edições e outra em um único volume encadernado.
A história gira em torno de Wesley Gibson, um jovem infeliz e sem rumo na vida que descobre que seu pai, que ele nunca conheceu, era na verdade um vilão chamado ‘O Assassino’. Após a descoberta, Wesley acaba sendo recrutado por uma organização criminosa e, sob a orientação de personagens como ‘O Carniceiro’ e ‘A Raposa’, é treinado pra usar suas habilidades recém-descobertas e se tornar um assassino habilidoso ao mesmo tempo que deve tomar o lugar de seu pai morto.
A minissérie se tornou famosa por sua abordagem distorcida e cínica acerca dos tropos do conceito de super-heróis, ao mesmo tempo que explora temas como livre-arbítrio, poder, moralidade, redenção e irresponsabilidade enquanto desafia as convenções tradicionais desse gênero.
Essa subversão vem logo de cara quando conhecemos a ‘Fraternidade’, uma organização composta não por criminosos comuns, mas sim por super-vilões que são capazes de alterar a realidade pra que as pessoas acreditem que os antigos super-heróis, agora mortos ou subjugados ao esquecimento, eram apenas personagens de histórias em quadrinhos, além de também controlar diversos outros aspectos do mundo pelos bastidores, eliminando qualquer pessoa que se oponha a eles.
Ao contrário de sua contraparte nas telonas, o quadrinho traz doses cavalares de violência explícita, linguagem extremamente pesada, reviravoltas surpreendentes e personagens absurdamente caricatos. Conceitos como tear do destino, banheiras curadoras, ‘matar um para salvar mil’ e até mesmo balas que fazem curva, são elementos criados apenas pro cinema, ou seja, liberdades criativas feitas para amenizar diversos absurdos dos quadrinhos.
Dirigido por Timur Bekmambetov e estrelado por James McAvoy, Angelina Jolie e Morgan Freeman, o longa teve seu lançamento em 2008 e, embora a adaptação tenha recebido críticas mistas, acabou sendo bem recebido e bem sucedido nas bilheterias, trazendo a história de “O Procurado” para um público mais amplo.
Pra entender como a HQ realmente se diferencia de sua adaptação, só lendo mesmo. Por isso, dá uma conferida no material de origem e boa leitura!
RED
Para fechar essa lista na melhor forma, temos RED (sigla para ‘Retired, Extremely Dangerous’, ou ‘Aposentado Extremamente Perigoso’). Assim como em “O Máskara”, quadrinho e adaptação seguem caminhos parecidos, mas mudam completamente quando se trata do tom de cada uma das obras.
No caso, a mudança segue por um caminho onde o material original, com um bom nível de violência, se apresenta bastante sério e sisudo enquanto o longa emerge em sua narrativa o humor trabalhando ao mesmo tempo com um grupo de personagens, ao invés de apenas um.
Lançada originalmente em três edições, a minissérie é escrita por Warren Ellis e ilustrada por Cully Hamner, e foca toda a sua trama no ex-agente da CIA, Paul Moses. Moses é forçado a voltar à ação quando o diretor da Agência ordena seu assassinato após descobrir as ações do ex-agente dentro da agência, temendo que haja repercussões do público caso esses segredos vazem de alguma forma.
Quando descobre sobre a tentativa de eliminação, o operativo percebe que sua antiga vida de agente secreto voltou para assombrá-lo e decide reativar suas habilidades para descobrir quem está por trás dessa conspiração contra ele. A partir daí, Moses sai em uma implacável jornada para tentar encontrar o homem que pôs sua cabeça a prêmio.
Na minissérie, Moses mantém contato apenas com sua antiga controladora, Sally, através de ligações telefônicas mensais, além de cartas para uma sobrinha que vive na Inglaterra. Toda a sua busca por vingança é feita apenas por ele em um cenário onde somente Moses é o centro da trama.
Já no longa de 2010, estrelado por Bruce Willis, aqui rebatizado como Frank Moses, durante sua busca, acaba se reconectando com antigos colegas da CIA, como Marvin Boggs (John Malkovich), Joe Matheson (Morgan Freeman) e Victoria Winslow (Helen Mirren), que também estão na mira da Agência. Sally (Mary-Louise Parker) também acaba tendo uma participação muito mais significativa, sendo uma parte integral da trama.
No Brasil, a HQ chegou a ser lançada pela Panini em uma edição bastante modesta, mas caprichada, compilando as três edições originais. Atualmente, a edição é bem difícil de ser encontrada, mas quem sabe uma boa procurada em sebo não possa acabar sendo proveitosa!
O quadrinho, além de bem curtinho, tem uma narrativa bastante direta e com diálogos muito pontuais. Pra saber com exatidão do que se trata, sua leitura acaba sendo obrigatória. Então aproveita e confere logo qual é do quadrinho!
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