"Adeus Ao Mestre" - Harry Bates
Sumário do Volume 26 de 1940 da revista ASTOUNDING |
Jogado as Traças
Por Felipe Leonel
O Autor
Nascido em 9 de outubro de 1900 em Pitsburgo, Pensilvânia, nos EUA, Hiram Gilmore Bates III, mais conhecido por Harry Bates, ganhou notoriedade por trabalhar como editor de revistas pulp durante sua fase mais popular e também por escrever um dos contos mais predominantemente influentes da literatura sci-fi do século 20, "Farewell to the Master” (Adeus ao Mestre), conto de 1940 indicado até mesmo ao Prêmio Retro Hugo de Melhor Noveleta (Conto).
Harry Bates não foi tão polêmico ou influente quanto outros autores contemporâneos como John W. Campbell (“Frozen Hell” adaptado para o cinema como “The Thing From Another World” de 1951 e “The Thing” de 1982, ou “Enigma do Outro Mundo” no Brasil) ou Hugo Gernsback (criador da primeira revista exclusivamente dedicada à ficção científica, “Amazing Stories”, em 1926), mas teve sua importância, e influência, dentro do mercado na época.
Curiosamente, Bates não era um grande fã de ficção científica, afirmando ser pouco mais que fantasia pueril (pelo menos era como pensava o autor até antes de seu grande sucesso ser adaptado ao cinema). Seu maior projeto como escritor, a série “Hawk Carse”, sob o pseudônimo de Anthony Gilmore, e escrita ao lado de Desmond W. Hall, contava as histórias do maior dos aventureiros interplanetários, lançadas na revista Astounding teve quatro historias impressas, "Hawk Carse" (novembro de 1931), "The Affair of the Brains" (março de 1932), "The Bluff of the Hawk" (maio de 1932) e "The Passing of Ku Sui" (novembro de 1932).
A série ganhou sua própria coleção de livros em 1952 e como resultado recebeu críticas negativas dos críticos Anthony Boucher “fortemente recomendada a todos os conhecedores de prosa, tão escandalosamente ruins que atingem seu próprio tipo de grandeza" e J. Francis McComas "ópera espacial old school crua incluindo todos os clichês da época". Everett F Bleiler, editor, bibliografista e estudioso literário, caracterizou a série como "histórias ocidentais pulp tradicionais transplantadas para o espaço, com a adição de um vilão oriental no modo de Dr. Fu-Manchu, de Sax Rohmer”. A série ganhou uma história extra dez anos depois pela revista Amazing Stories, a novela final de Hawk Carse, "The Return of Hawk Carse”, escrita apenas por Bates, mas nunca chegou a ganhar sequer uma reimpressão.
Ao contrário das histórias de Hawk Carse, no entanto, “Adeus ao Mestre” é bem escrito, imaginativo e inovador para a época. Bates se utilizou magistralmente de um conceito da ficção científica muito usado durante a década de 1940, o conceito da invasão alienígena e o medo do desconhecido, e tenta subverter as expectativas para fazer um argumento sobre as armadilhas dessa mesma suposição.
O Conto
“Adeus ao Mestre” é contada de maneira não convencional, com o primeiro terço expondo um protagonista que não é particularmente heroico nem tão moralmente comprometido e de uma criatura extraplanetária amargurada e triste pela perda de um amigo. Acima de tudo, são os motivos dos dois "invasores" únicos que se afastam da narrativa tradicional, e que transparece uma certa benevolência e afeto um pelo outro, embora seus verdadeiros motivos nunca sejam explicados de cara.
Klaatu, um ser de forma humana de feições quase divinas, e Gnut, um robô silencioso com cerca de dois metros e meio de altura, emergem de uma pequena nave que, não necessariamente pousa, mas simplesmente surge no gramado da Casa Branca (cenário onde centenas de histórias subsequentes de visitação alienígena também ocorreriam), na capital estadunidense, e aparece sem alarde, ou qualquer demonstração de perigo eminente.
Cumprimentando as massas, reunidas com o surgimento da nave e dos dois indivíduos, Klaatu , com um gesto de paz, pronuncia sete palavras de saudação antes que um lunático religioso o alveje com um tiro matando-o na hora. Gnut se abaixa para segurar Klaatu em suas mãos, permanecendo totalmente imóvel, e na mesma posição, desde então. Depois disso, três meses de incerteza passam, Klaatu é enterrado em um mausoléu, enquanto uma ala de um museu adjacente é construída em torno de Gnut e da nave alienígena. Vários testes são realizados que servem apenas para provar que Gnut e a embarcação espacial de onde vieram são completamente impermeáveis às sondas e outras ferramentas de destruição da humanidade.
Klaatu, um ser de forma humana de feições quase divinas, e Gnut, um robô silencioso com cerca de dois metros e meio de altura, emergem de uma pequena nave que, não necessariamente pousa, mas simplesmente surge no gramado da Casa Branca (cenário onde centenas de histórias subsequentes de visitação alienígena também ocorreriam), na capital estadunidense, e aparece sem alarde, ou qualquer demonstração de perigo eminente.
Cumprimentando as massas, reunidas com o surgimento da nave e dos dois indivíduos, Klaatu , com um gesto de paz, pronuncia sete palavras de saudação antes que um lunático religioso o alveje com um tiro matando-o na hora. Gnut se abaixa para segurar Klaatu em suas mãos, permanecendo totalmente imóvel, e na mesma posição, desde então. Depois disso, três meses de incerteza passam, Klaatu é enterrado em um mausoléu, enquanto uma ala de um museu adjacente é construída em torno de Gnut e da nave alienígena. Vários testes são realizados que servem apenas para provar que Gnut e a embarcação espacial de onde vieram são completamente impermeáveis às sondas e outras ferramentas de destruição da humanidade.
Ilustração e capa da revista ASTOUNDING com a primeira publicação de "Farewell To The Master"
Entra na história Cliff Sutherland, um fotojornalista que fez carreira fotografando o robô Gnut. Um dia, caminhando pelos corredores do museu, Sutherland percebe algo diferente em Gnut, o robô havia se movido de maneira quase imperceptível. O fotografo então decide se esconder durante a noite no museu na esperança de tentar descobrir o que aquilo significa e quem poderia ter movido Gnut. O que se segue é uma noite estranha e aterradora em que Gnut desperta, e move-se, por conta própria, revivendo e libertando um gorila antes empalhado de dentro de sua nave. O animal, porém, não resiste a transformação e sucumbe novamente ao seu estado anterior.
Impressionado e amaldiçoando-se por não ter conseguido tirar boas fotos da experiência, Sutherland decide ficar mais uma noite dentro do museu, retornando no dia seguinte apenas para testemunhar algo mais assustador ainda. Sitwell, um antigo conhecido de Sutherland, também emerge da nave, confuso e em pânico, antes de morrer abruptamente. Gnut então pega de dentro de sua nave um segundo corpo humano, que parece ser uma cópia idêntica de Sitwell.
Quando o dia amanhece, Sutherland decide vender sua história para os jornais e consegue convencer o governo a tentar selar Gnut em um polímero transparente altamente avançado. Ao cair da noite, Gnut se liberta de sua prisão de plástico e foge do museu em um confronto com alguns militares. Durante a fuga, Gnut sequestra Sutherland que corre em direção ao mausoléu onde o corpo de Klaatu é mantido. O robô leva o alienígena de volta para a nave dentro do museu e Sutherland volta a testemunhar uma nova ressurreição, dessa vez do próprio Klaatu, usando uma tecnologia bizarra capaz de o reconstruir usando apenas o som gravado da voz do alienígena.
A nova criatura é imperfeita e o novo Klaatu vive apenas tempo suficiente para explicar a Sutherland que Gnut tem experimentado novos métodos para trazê-lo de volta a vida, usando a gravação de saudação de Klaatu quando chegaram a terra. O gorila e Sitwell faziam parte desse experimento. O próprio Sitwell ainda estava vivo, sua cópia havia sido criada a partir das gravações que ele mesmo havia feito para o museu.
No dia seguinte, Sutherland dá a Gnut o gravador que capturou a voz da versão imperfeita de Klaatu no momento em que os dois conversavam, na esperança de que Gnut pudesse reverter as falhas de seu experimento e fazer uma cópia mais estável de seu mestre, Klaatu. Gnut o agradece e, antes de retornar a sua nave e deixar a Terra para trás, Gnut diz a Sutherland que ele estava errado sobre uma coisa; Gnut, o robô, era na verdade o mestre de Klaatu, e desejava traze-lo de volta a vida por serem grandes amigos.
Pensamentos sobre a obra
"Klaatu barada nikto"
Bates cria uma ambiguidade genuína com o passar da trama. Coloca o leitor na mesma posição que Cliff Sutherland, presumindo e assumindo os reais propósitos do robô, deixando escapar o quão pouco entendemos sobre outros indivíduos e também deixando escapar preconceitos internos, controlando nosso pensamento a assumir o que Gnut e Klaatu verdadeiramente são, revelando ao final que nunca tivemos informações suficientes que pudessem dar qualquer resposta sobre essa relação, assim como tentar descobrir de onde veio a nave alienígena e quais são os objetivos dos alienígenas. É apenas uma tarefa fútil.
Filmes
Harry Bates não chegou a ter reconhecimento mundial por suas obras literárias, mas atraiu cineastas com seu conto “Adeus ao Mestre” que, em 1951, e em 2008 um remake, ganhou uma adaptação cinematográfica livremente baseada na obra, “O Dia que a Terra Parou”, que mantém apenas uma semelhança cosmética com a visão de Bates.
Na trama do longa, o alienígena humanoide Klaatu e seu robô gigante Gort (sim, Gort, o nome foi alterado para as telonas) se materializam em Washington, DC, em uma nave de viagem no tempo. Os dois veem ao planeta na tentativa de trazer uma mensagem do futuro na tentativa de salvar o planeta e a humanidade do que há por vir. Após Klaatu se baleado e morto por um soldado a tentativa pacifica de receber os alienígenas na Terra é arruinada causando a ira de Gort e levando o planeta a um confronto direto com o robô.
A frase "Klaatu barada nikto", famosa entre fãs de scifi, se originou no filme de 1951, dita por Klaatu à personagem Helen Benson. aso algum grande problema acontecesse, Helen deveria dizer essa frase ao robô Gort para que fosse evitada a destruição da Terra e que pudesse trazer Klaatu de volta a vida.
Posteres originais do longa de 1951, com Michael Rennie como Klaatu
e da versão de 2008 com Keanu Reeves no mesmo papel Quer ler o conto? Acesse o link e baixe nos formatos PDF e EPUB em inglês e português.
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