Fringe (2008)

Por Felipe Leonel

“Fringe” (ou “Fronteiras”, no Brasil) estreou na televisão lá em 2008 como uma grande promessa, como uma renovação nas séries sci-fi até então. Encerrou suas atividades em 2013 e, por um certo tempo, se manteve em alta e com grandes expectativas, já que sua trama trazia uma gama interessante de assuntos.  

A trama acompanha três indivíduos de personalidades muito diferentes, a agente especial Olivia Dunham, o Dr. Walter Bishop, um cientista excêntrico e brilhante, e seu único filho, Peter Bishop. Além de seus claros elementos de ficção científica, a série também trabalhava com diferentes gêneros ao longo de sua continuidade, como horror, terror, drama e até mesmo elementos tirados diretamente de filmes noir detetivescos. 

Todas essas ideias tiveram influências diretas de outras duas séries tão conceituadas e tão importantes quanto, “Além da Imaginação” (Twilight Zone) de 1959 e “A Quinta Dimensão” (The Outer Limits) de 1963, pioneiras nesses assuntos. Ainda assim, de todas as suas influências, “Fringe” tem como a maior delas a série “Arquivo X” (The X Files) de 1993. 

Criada pelo produtor e diretor J.J. Abrams e pelos roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci, “Fringe" segue a história da “Fringe Division” do FBI, encarregada de investigar casos que envolvem fenômenos inexplicáveis e, muitas vezes, ligados à tecnologia de ponta, experimentos perigosos e até mesmo eventos paranormais. 

Ao longo de sua continuidade, a série aborda temáticas sobre universos/realidades paralelas e uma trama cheia de monstros, viagem no tempo, viagens extra sensoriais, metamorfismo e temas mais amplos, como a natureza da realidade, ética científica, responsabilidade governamental e moralidade.

Além da ideia principal sobre universos paralelos abordada em cada uma de suas cinco temporadas, uma das bases da trama é uma misteriosa corporação privada chamada Massive Dynamics, onde residem os grandes segredos que movem os personagens e a história como um todo. 

Os episódios muitas vezes apresentam títulos interessantes que são referências a conceitos científicos (ideias tiradas diretamente de conceitos da física quântica), obras literárias (incluindo os trabalhos de Michael Crichton e Aldous Huxley) e muitos outros elementos da cultura pop da época.

"Fringe" recebeu elogios da crítica e do público em seu lançamento e conseguiu agregar uma base de fãs dedicada ao longo de suas cinco temporadas. A série também recebeu várias indicações e prêmios, incluindo prêmios técnicos e de efeitos especiais.

Todo esse sucesso trouxe ótimas críticas ao diretor J.J. Abrams, feito que o ajudou a elevar ainda mais sua carreira, colocando até mesmo outras de suas produções, como “Lost” (2010) e “Alias” (2001), em patamares de clássicos absolutos. 

Personagens principais

O desenvolvimento dos personagens em "Fringe" é de cara um dos elementos mais bem feitos e uma parte essencial da narrativa com cada membro do elenco principal passando por jornadas emocionais e pessoais significativas. Todas essas jornadas , quando juntas, contribuem para a riqueza e profundidade da história como um todo.

Olivia Dunham (Anna Torv):

Introduzida como uma agente do FBI altamente competente e determinada, cuja vida pessoal é marcada por tragédia e trauma, ao longo da série descobrimos mais sobre seu passado, incluindo sua ligação com o Dr. Walter Bishop ainda durante sua infância.

A jornada de Olivia é central para a trama, à medida que ela descobre mais sobre sua própria identidade e habilidades especiais, incluindo sua conexão com o universo paralelo.

Peter Bishop (Joshua Jackson):

Apresentado como um especialista em ciência e tecnologia que inicialmente tem uma relação complicada com seu pai, o Dr. Walter Bishop. Peter tem um passado problemático e cheio de mistérios envolvendo atividades ilegais e uma ligação com esse universo alternativo.

Dr. Walter Bishop (John Noble):

Walter Bishop é talvez o personagem mais complexo e intrigante da série. Um cientista genial, que também é emocionalmente vulnerável visto muitas vezes lutando com os efeitos de suas próprias descobertas e experiências traumáticas.

O relacionamento de Walter com seu filho, Peter, é um dos pontos focais da série, com os dois tentando reconciliar seu passado tumultuado e encontrar uma maneira de se relacionar como pai e filho.

Um dos aspectos mais destacados e interessantes no desenvolvimento dos personagens é o relacionamento de Peter com Olivia, com sua dinâmica evoluindo à medida que enfrentam desafios pessoais e profissionais juntos, passando de uma parceria profissional para um romance complicado.

Outros Personagens

Ainda que a trama se foque muito mais em Olivia, Peter e Walter, os personagens secundários e fixos da série também desempenham papéis significativos na dinâmica como um todo, fornecendo apoio emocional, expertise técnica e complexidade adicional à narrativa. 

Suas interações com os protagonistas principais ajudam a aprofundar o mundo de "Fringe” de forma muito mais completa e ajuda a explorar temas como lealdade, ética e relações interpessoais, o que adiciona uma camada adicional de complexidade ao desenvolvimento dos personagens.

Phillip Broyles (Lance Reddick):

Phillip Broyles é o agente especial encarregado da “Fringe Division”, e é retratado como um líder respeitado e dedicado que muitas vezes lida com desafios éticos e políticos de sua função. Ao longo da série, Broyles desenvolve um relacionamento próximo com os membros de sua equipe, assim como uma lealdade evidente, mesmo quando precisa enfrentar pressões do alto escalão do governo e da corporação Massive Dynamic.

Nina Sharp (Blair Brown):

Uma figura poderosa e enigmática e vice-presidente executiva da Massive Dynamic. Tem uma história complexa e conexões profundas com vários eventos e personagens principais, sendo revelada como uma figura central em muitos dos mistérios investigados pela “Fringe Division”. Nina mantém uma relação ambígua com os protagonistas, alternando entre aliada e adversária, dependendo das circunstâncias.

Astrid Farnsworth (Jasika Nicole):

É uma agente júnior do FBI e assistente de laboratório designada para trabalhar diretamente com Walter. Astrid é altamente qualificada em análise de dados e apoia a equipe nas investigações.

Frequentemente retratada como uma personagem inteligente, gentil e leal, desenvolve um vínculo especial com Bishop enquanto serve como uma figura maternal e de apoio para ele, especialmente durante seus momentos de vulnerabilidade.


“Fringe” além da série de TV

Lançadas junto a exibição e além do final de “Fringe”, os quadrinhos de “Beyond the Fringe: Chapter A” e “Beyond the Fringe: Chapter B” são adaptações que expandiram ainda mais o universo da série, permitindo explorar novas histórias e aventuras dos personagens em ambos os universos abordados na televisão.

Cada uma das séries apresenta histórias passadas em ambos os universos sendo a “Chapter A” no universo que acompanhamos na série e “Chapter B” com histórias acontecendo tanto no universo paralelo que conhecemos quanto em outros mundos não mostrados na televisão.

As adaptações permitiram aos criadores explorar novos aspectos do universo da série, incluindo casos não resolvidos, personagens secundários e cenários alternativos, assim como forneceram aos fãs uma oportunidade de mergulhar mais fundo na mitologia, revelando segredos e detalhes adicionais sobre os personagens e os eventos que moldaram esses mundos.

Os quadrinhos foram produzidos e lançados pela DC Comics diretamente para o selo DC Comics Digital First. As histórias mantiveram o estilo visual e o tom da série de televisão, proporcionando uma expansão divertida e bastante envolvente do mundo de "Fringe”.

A equipe criativa inclui um time talentoso, com Jorge Jimenez, Mike S. Miller, Jhoen Vasquez, Becky Cloonan e Tom Mandrake nos desenhos e Adam Gaines, Christine Lavaf, Kristin Cantrell e o próprio ator Joshua Jackson nos roteiristas, entre outros nomes. 

Mesmo que bem curtas, com cada uma das adaptações ganhando somente seis edições, a série em quadrinhos foi bem recebida pelos fãs recebendo também elogios por sua fidelidade aos personagens e à atmosfera da série de TV, bem como por sua capacidade de contar histórias diferentes e envolventes dentro desse contexto.

Leonard Nimoy e seu enigmático William Bell

Famoso por seu icônico papel em Star Trek como Spock, tanto na série original quanto nos primeiros filmes, Leonard Nimoy teve uma participação significativa em "Fringe" interpretando o misterioso William Bell, personagem crucial na trama de quase todas as temporadas. 

Bell é inicialmente mencionado ainda no começo da primeira temporada, aparecendo posteriormente no final dela, mais especificamente no último episódio ("There's More Than One of Everything"), e por apenas alguns segundos. Ao longo da segunda temporada, o personagem ganha maior destaque, tendo uma presença efetiva e com maior tempo de tela.

Um dos fundadores da poderosa corporação Massive Dynamic, Bell se apresenta como um elemento profundamente envolvido nos eventos que moldam tanto o universo conhecido quanto o alternativo, oferecendo praticamente todas as complexidades de trama do multiverso apresentadas na série.

A adição de Nimoy ao elenco trouxe uma aura de prestígio à série, atraindo fãs de Star Trek, e adicionando uma dimensão extra ao enredo. Além de atuar na série, Nimoy dirigiu o episódio intitulado "Lysergic Acid Diethylamide" aproveitando sua experiência prévia como diretor, contribuindo também para a qualidade visual e narrativa do episódio.

A participação do ator em "Fringe" trouxe uma camada adicional de profundidade e intriga à série, além de ser uma oportunidade para os fãs apreciarem seu trabalho em um contexto diferente. Sua contribuição é lembrada como uma parte importante da história da série.

Após a participação em "Fringe", Nimoy anunciou sua aposentadoria do entretenimento, sendo o papel de William Bell sua última atuação em frente às câmeras. Com sua morte em 27 de fevereiro de 2015, a produção prestou homenagem ao ator adicionando uma dedicatória ao final do episódio final da série.

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