The Thing (1982)

Por Felipe Leonel
Filmes clássicos são filmes clássicos, sempre. E não importa qual o ano de lançamento do longa, quando o filme tem a melhor junção de roteiro, produção, direção, elenco, atuação e uma trama inteligente, mesmo que seja um produto milhonário ou de baixíssimo orçamento, um clássico surge com toda a pompa e elegância que merece, as vezes demora pra ganhar o título, mas quando é pra ser, será.
Entre os diversos filmes que se pode colocar facilmente nesse pedestal de clássico, está “Enigma do Outro Mundo” (The Thing, 1982), uma das obras de ficção científica e terror mais surpreendentes, interessantes, assustadoras e misteriosas que a sétima arte tem a capacidade de produzir, e isso ainda considerando seus 43 anos de existência.
Claro que um clássico desses teve a mão de um diretor absurdamente capaz e com um genialidade criativa que beira o absurdo, John Carpenter. É muito por causa dele e de sua direção precisa e focada que “Enigma do Outro Mundo” acabou sendo conhecido principalmente por sua atmosfera de paranoia, seus monstros exagerados, pelo clima de tensão e medo e também pelos efeitos práticos.
Baseado no conto “Who Goes There?”, escrito pelo americano John W. Campbell Jr., lançado em 1938, o filme é também um remake de outro longa, “O Monstro do Ártico” (The Thing from Another World), de 1951, primeira adaptação do conto para os cinemas. E diferente de suas contra-partes literária e cinematográfica, “Enigma do Outro Mundo” aproveita alguns dos elementos de ambas as tramas, usando uma linha narrativa semelhante a elas pra criar uma nova ideia e uma história ainda mais intrigante, assustadora e original.

A trama toda começa quando um helicóptero norueguês perseguindo um cachorro no deserto congelado da Antártida. O animal chega até a base americana da estação de pesquisa Outpost 31, onde os noruegueses tentam matar o cachorro, mas acabam mortos em circunstâncias confusas. Os americanos acabam acolhendo o animal, sem saber que ele é o hospedeiro de uma criatura alienígena que pode imitar perfeitamente qualquer ser vivo.
Enquanto isso, o piloto R.J. MacReady e o Dr. Copper visitam a base norueguesa para investigar o que aconteceu e encontram corpos mutilados, vídeos de escavações e evidências de que os noruegueses descobriram algo enterrado no gelo — uma espaçonave alienígena. Eles também recuperam restos do que parece ser um cadáver deformado e levam de volta à base para exame.
Enquanto isso, na estação, a criatura cachorro começa a agir estranhamente, se transformando em uma abominação grotesca quando colocado no canil com outros cães. Após um confronto intenso, a equipe descobre que estão lidando com uma entidade capaz de imitar qualquer forma de vida que consuma.

Conforme a criatura começa a se infiltrar na equipe, MacReady toma a liderança e organiza um plano para identificar quem ainda é humano. A tensão aumenta, pois ninguém pode confiar em ninguém, e suspeitas levam a conflitos violentos – uma das sequências mais incríveis do longa é o "teste de sangue", onde MacReady usa fios aquecidos para verificar se o sangue dos colegas reage, já que cada célula da criatura é capaz de sobreviver e lutar por conta própria.
Eventualmente, agora já disseminada por toda a base, a criatura elimina a maior parte da equipe, enquanto MacReady descobre que ela está tentando se reconstruir e congelar novamente para ser encontrada no futuro levando o protagonista a destruir a estação, explodindo ela na tentativa de eliminar de vez a criatura.
O filme termina com MacReady e Childs (Keith David) sobrevivendo ao incêndio, mas sem nenhum meio de escapar ao mesmo tempo em que desconfiam um do outro, mas, aceitando o destino inevitável, compartilham uma garrafa de uísque enquanto esperam para morrer ou congelar, deixando no ar a questão de qual deles, se é que algum, ainda é humano.
Entre os principais temas, o filme explora muito bem como a paranóia pode destruir relações e equipes, especialmente em situações de crise, já que aqui, a criatura não tem preocupação ou nenhuma necessidade de atacar diretamente os membros da base para se multiplicar e semear o caos. Além disso, o ambiente antártico, gelado e desolado, ainda ajuda a refletir o estado emocional dos personagens com a impossibilidade de escapar fazendo com que a tensão aumente a cada minuto.
E com o desenrolar da trama, acaba ficando claro que a luta não é só contra a criatura alienígena, mas também contra o medo de perder a própria humanidade, tanto literal quanto figurativamente, ajudando a criar um desfecho ambíguo e sem respostas claras sobre o verdadeiro "inimigo" no filme – a criatura, o ambiente hostil ou a incapacidade humana de trabalhar em conjunto sob pressão.
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Ainda que seja considerado um dos melhores filmes de terror já feitos, “The Thing” teve uma recepção fraca da crítica especializada e desempenho muito abaixo do esperado nas bilheterias. O lançamento simultâneo com "E.T.: O Extraterrestre" acabou sendo um dos fatores para isso, já que o longa dirigido por Stephen Spielberg acabou gerando um clima de otimismo em relação às histórias alienígenas naquele momento.
O trabalho de Rob Bottin nos efeitos práticos acabou sendo o destaque em grande parte das críticas positivas. As criaturas grotescas feitas de forma manual e sem efeitos de computador ajudaram a criar cenas memoráveis, como a transformação do cachorro e a famosa "cabeça aranha".

Já a trilha foi composta por Ennio Morricone, combina tons minimalistas com uma atmosfera inquietante, marcando uma rara colaboração com Carpenter, que frequentemente compunha as trilhas de seus próprios filmes. Ao longo dos anos, “Enigma do Outro Mundo” acabou deixando um legado para quem gosta do gênero sci-fi e terror, influenciando uma penca de outros trabalhos na telona e na cultura pop, gerando até mesmo uma prequência de mesmo nome em 2011.
Além da direção de Carpenter, o "Enigma do Outro Mundo" tem roteiro de Bill Lancaster e seu elenco conta com Kurt Russell como R.J. MacReady, Keith David como Childs e Richard Dysart como Dr. Copper, assim como Wilford Brimley, T.K. Carter, David Clennon, Charles Hallahan, Peter Maloney, Richard Masur, Donald Moffat, Joel Polis e Thomas G. Waites completando o time.

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