Os 12 Macacos (1995)

Cova Rasa
Por Felipe Leonel

Acho que já deixei bem claro minha predileção por histórias sci-fi, mais especificamente por produções que mexem com viagem no tempo e elementos desse tipo. E pra não sair dessa onda, pelo menos por enquanto, outro clássico do cinema que trabalha bastante com essa ideia é o longa de 1995, “Os 12 Macacos” (12 Monkeys).

Uma obra bastante conhecida principalmente pela abordagem absurdamente inteligente do conceito de viagem no tempo, o longa também mexe muito com a ideia de colapso social e como essas viagens são capazes de deixar a saúde mental de qualquer um totalmente quebrada.

Livremente baseado no curta francês "La Jetée" (1962), dirigido por Chris Marker, uma produção experimental preto e branco com apenas 28 minutos, “Os 12 Macacos” consegue trazer para seu enredo parte do estilo inovador e da abordagem filosófica sobre memória, tempo e identidade de sua obra inspiradora, mas com adições ainda mais interessantes a trama e um desenvolvimento fora do comum. 


Dirigido por Terry Gilliam e estrelado por Bruce Willis, Madeleine Stowe e Brad Pitt, “Os 12 Macacos” se passa em um futuro desolado onde a humanidade foi quase dizimada por um vírus mortal que obrigou os sobreviventes a viverem nos subsolos das cidades. 

James Cole, um prisioneiro desse futuro, é enviado de volta no tempo para coletar informações sobre o vírus e também sua origem, mas durante uma de suas viagens acaba confundido com um louco e é internado em um hospital psiquiátrico, onde conhece a psiquiatra Kathryn Railly e o excêntrico Jeffrey Goines.

Ao longo da trama, as linhas entre realidade e delírio começam a se tornar cada vez mais confusas, com Cole questionando sua própria sanidade e a legitimidade de sua missão. Em torno de tudo isso, o protagonista descobre o grupo conhecido como "Os 12 Macacos", além de diversos outros elementos que se misturam com revelações sobre os verdadeiros responsáveis pelo vírus e a relação entre passado, presente e futuro dele mesmo e da própria humanidade.

A viagem temporal e a mente humana

Um estudo fascinante sobre o conceito de viagem no tempo (com ideias solipsistas bastante presentes), memória e sanidade, a trama de “Os 12 Macacos” explora o conceito de causalidade e o paradoxo do predestinado, onde o futuro é imutável e eventos passados são peças de um ciclo fechado, além de flertar com a ambiguidade deixando o espectador questionar se os eventos em que o protagonista atravessa são reais de fato ou somente fruto das diversas distorções que as viagens causaram em sua mente.

Muitos desses elementos surgem na trama por causa de uma desorientação temporal causada pelas viagens constantes entre diferentes períodos de tempo que acabam deixando o protagonista, em grande parte, absurdamente confuso sobre o que é real ao seu redor e frequentemente questionando se está vivendo no passado ou no futuro, ou até mesmo se sua missão é apenas uma construção de sua mente.


Enquanto vive isolado em um hospital psiquiátrico, sendo tratado como louco entre os anos de 1990 e 1996 e combinado com o isolamento de sua vida no futuro, a perda de sua sanidade e aumento do trauma acabam contribuindo ainda mais para um estado mental cada vez mais instável criando ao mesmo tempo uma percepção da realidade que nunca se estabiliza completamente.

Além disso, existe também uma fragmentação da memória de Cole sobre um momnto em especificico vivido durante sua infancia, o assassinato de um desocnhecido bem no aeroporto, que se desdobra como uma peça-chave da trama. Inicialmente um fragmento indistinto onde um homem é morto em frente a sua versão infantil, a memória se torna mais clara à medida que os eventos ocorrem, Cole descobre, enquanto é morto, que ele é o homem de sua memória revelando um ciclo fechado da trama onde ele é ao mesmo tempo o espectador e a vítima.

Essa percepção de que ele não pode mudar os eventos amplifica o desespero do protagonista que só percebe que está preso em um ciclo onde suas ações apenas confirmam os eventos que ele tenta evitar, e no momento de sua própria morte, ao mesmo tempo em que não consegue evitar a grande catástrofe que irá assolar o mundo. É nesse ponto que, passado e futuro se mostram totalmente entrelaçados, criando um ciclo inevitável que reflete o paradoxo do predestinado. 

A desesperança como conclusão ideal 

Claro, a viagem no tempo é o motor da narrativa em “Os 12 Macacos”, é com ela que Cole e o espectador reconstruam juntos a história do vírus colocando juntos cada uma das peças que compõem uma história muito maior e muito mais complexa do que aparenta inicialmente. Essa mistura de elementos narrativos, junto a ideia de que o futuro não pode ser alterado, contrasta com a esperança inicial do protagonista de que sua missão poderia salvar a humanidade fazendo dessa trama algo ainda melhor.

“Os 12 Macacos” traz ao espectador uma viagem no tempo que não é apenas usada como um artifício de enredo, mas principalmente como um dispositivo central para explorar a condição humana, moldando a narrativa, desafiando a sanidade do protagonista e estabelecendo o tom trágico do longa. No final, a experiência de Cole é a mesma que a do espectador, com uma esperança de um final feliz ou mesmo aliviador, que acaba entregando algo desesperador, mas não menos perfeito.


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