Robocop - O Policial do Futuro (1987)
Por Felipe Leonel
Produto de uma época cheia de corrupção e problemas governamentais sérios, RoboCop é umas das criações mais satíricas do cinema dos anos 80. Nudez, violência excessiva, humor-negro, personagens caricatos e uma crítica pesada ao governo Reagan, somam-se a trama em uma teatralidade exagerada, planejados aos moldes dos filmes B da época. Nada foge ao clichê barato e piadas que remetem a uma tiração de sarro absurda, tudo muito bem colocado pelo diretor holandês Paul Verhoeven. O roteiro fica a cargo de Edward Neumeier e Michael Miner.
A trama acompanha o policial Alex Murphy (Peter Weller), recém chegado à Detroid, colocada aqui não por acaso, umas das cidades mais violentas dos EUA nos anos 80. Apresentado ao público sem nenhuma delonga e praticamente sem nenhum background, Muphy entra de cabeça em uma missão atrás de um grupo de traficantes de armas e drogas junto a sua parceira, a oficial Anne Lewis (Nancy Allan). Os dois acabam parando em uma velha fábrica onde Clarence Boddicker (Kurtwood Smith) e sua gangue mantem sua pequena base e são feitos reféns. No processo Murphy é assassinado brutalmente a tiros.
Lewis reconhece Murphy por trás da armadura e tenta recobrar as lembranças do amigo |
Dick Jones com seu temível e falho ED-209 |
Após perseguição, RoboCop consegue prender Clarence Boddicker, um de seus assassinos
Boa parte de sua narrativa e o contexto são montadas através de programas de TV, noticiários sensacionalistas e sitcons, ilustrando de forma exagerada e engraçada o cenário decadente instaurado realçando os pontos mais fortes do longa, como as sátiras e a violência. Se destaca nas frases de efeito do protagonista, atribuindo tons jocosos a proteção policial e a própria ordem. Ganha pontos também pela produção. Desde a armadura, até os animatrons colocados de forma orgânica no cenário, deixando tudo mais real e visceral. As cenas criadas em stop-motion, condizem com as atuações e trazem um ar de veracidade à ação. Verdadeiros efeitos visuais práticos.
Utilização da mídia jornalística e programas de humor barato como forma de manipulação de massa
Efeitos práticos e maquiagem trazem veracidade ao longa de ação
O longa abre espaço para discussões filosóficas, religião (a representação do RoboCop andando sobre as águas e suas poses de salvador), violência (de forma global, deslocando-se em larga escala na representação do consumo exacerbado), interesses privados (uma nova cidade projetada para uma minoria rica - Delta City - construída sobre a velha Detroid) manipulação da mídia, corrupção e humanidade (a busca do ser e existir de Murphy em sua nova forma física). Coloca sob perspectiva aspectos sociais e políticos (como a greve dos policiais, controla pelo privado), arranjados em uma trama fictícia de ação caricata, um filme sci-fi aos moldes da época.
RoboCop funciona bem como um longa de ação e sua visão ácida e crítica a privatização de órgãos públicos, soluções governamentais erráticas e controle da mídia aos problemas de violência e crime dos EUA dos anos 80, constroem um ponto de pensamento e diverte sem perder a mão, mesmo depois quase 30 anos.
Continuações
Nos anos 90, RoboCop, ganhou duas continuações. RoboCop 2, de 1990, dirigido por Irvin Kershner e roteirizado por Frank Miller, ainda com Peter Weller como protagonista, abordava a questão do uso, tráfico de drogas e vício, colocando o Policial do Futuro em confronto com um novo robô ainda mais poderoso, utilizando o cérebro de um traficante, feito exclusivamente para derrota-lo. Ainda que inferior ao primeiro, vale conferir sem medo o segundo longa. RoboCop 3, de 1993, dirigido por Fred Dekker e protagonizado por Robert John Burke (Banshee, Gossip Girls), feito a toque de caixa, o longa não trás nada novo e se limita a utilizar elementos do primeiro, mas com uma trama ruim e um vilão cartunesco, um ninja robô assassino (a atriz Nancy Allan só concordou em voltar ao papel de Lewis caso a personagem morresse ainda no início do filme). Ainda que ruim, vale a curiosidade.
Outras mídias
Ainda que tenha recebido críticas por suas continuações, RoboCop ganhou também duas séries animadas. A primeira, de 88 e seguia os passos do primeiro longa, mas voltado para o público infantil, não continha nenhuma violência e a produção era pavorosa até mesmo pra época. Durou apenas uma única temporada. Não satisfeitos, uma nova animação foi criada em 94, chamada Alpha Commando, e trazia exatamente o mesmo personagem, adormecido por anos e retornando a ativa para combater o crime em uma Detroid ainda mais futurista. Tiro no pé. Novamente a série teve apenas uma temporada.
Logo de abertura da animação de 88 e capa do VHS da animação de 94 |
Os erros não param por ai. Ainda em 94 a série foi levada novamente para a televisão, dessa vez em live action. Produção de baixíssimo orçamento, falta de criatividade, sem um mínimo de violência, atores desconhecidos, vilões cartunescos e uma falta de noção sem igual. Acerto no erro, uma única temporada como prova de que algumas coisas não dão certo.
Certas coisas não funcionam de forma alguma e novamente uma série em live action foi produzida em 2000, errando prontamente - novamente. Reunindo o mesmo elenco, mesma produção - mesmo tudo - chamada Prime Directives. A série foi divida em quatro episódios, Dark Justice, Meltdown, Ressurection e Crash and Burn. Nada pode justificar essa pérola, indefensável e injustificável.
Independente da mídia, RoboCop se reinventa a cada ano. Seja com reboots, projetos diretamente para a internet, ou quadrinhos, nada para a franquia trazendo sempre algo novo para ser contado. Ainda que cada uma gere um interesse e expectativas diferentes, pra bem ou pra mau.
RoboCop 1987 - Trailer oficial
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