Um Lobisomem Americano Em Londres 1981
Cova Rasa - Desenterrando filmes antigos por diversão |
Por Felipe Leonel
John Landis é um diretor expressionista do cinema. Suas produções beiram a genialidade, trazendo uma soma de diversão e originalidade inigualáveis. Comédias como “Clube dos Cafajestes”, “Irmãos Cara de Pau” e “Trocando as Bolas” o transformaram em um diretor de gênero. Sua carreira, alavancada pela direção de “Thriller” de Michael Jackson quando tinha apenas 19 anos de idade, mostrou o quanto Landis poderia ser criativo. Prova disso foi sua obra-prima da horror, “Um Lobisomem Americano em Londres”, de 1981, mesclando humor-negro a tons jocosos em sua narrativa.
O longa conta a história de David e Jack, dois amigos mochileiros que viajam a Londres a procura de alguma aventura e novas experiências. Quando uma chuva começa a cair em uma pequena estrada de terra, os jovens são obrigados a procurar um lugar seguro e seco e acabam encontrando um pequeno pub em uma cidade de estrada. Após uma pequena desavença com alguns camponeses ao questionar um pequeno altar na parede, com pentagramas e velas pretas, David e Jack são obrigados a sair dali, restando apenas procurar um novo lugar para se abrigar. O longa é recheado de frases de efeito, como o alerta dado pela dona do pub no momento em que os jovens sao expulsos “mantenha-se nas estradas e fiquem longe dos pântanos garotos, se vocês temem pelas suas vidas”. Sem entender ao certo os jovens acabam desviando do caminho e são atacados por algum tipo de lobo gigante, no processo, Jack acaba morrendo e David gravemente ferido.
A enfermeira Alex Price em seu primeiro encontro com David |
A partir desse ponto, o longa começa a dar indicios mais presentes de sua narrativa diferente. Em certos momentos não se leva a sério, mas aterroriza e prende a atenção em um drama pessoal de cada personagem. David subitamente começa a ver seu amigo morto, todo desfigurado. Em sua primeira aparição no hospital, já como um “zumbi”, Jack pede um pedaço de torrada no prato do amigo, uma cena inusitadamente diferente. Jack revela sobre o ataque feito por um lobisomem, e desconsiderando qualquer mitologia, pede a David que se mate com uma arma comum e evite que mais pessoas sejam mortas durante suas transformações. O impacto dessa cena se revela com mais força ao longo da trama, quando o personagem principal se involve amorosamente com sua enfermeira e suas visões monstruosas começam a aparecer em seus sonhos, sua transformação é inevitável nesse ponto. A visão do humor negro e do horror de sua nova e desconhecida forma.
Jack em sua primeira aparição no hospital após sua morte |
Diferente das produções mais atuais do gênero de horror, especificamente lobisomens, onde são inseridos exageros em computação gráfica e falta de criatividade na narrativa visual, “Um Lobisomem Americano Em Londres”, traz diversas referências a cultura do cinema de terror e aos monstros da Universal. O longa se destaca exatamente em sua produção, real e cheia de artifícios.
David começa a ter alucinações antes de sua transformação definitiva |
Depois de voltar do hospital e se alojar na casa da enfermeira por quem começa e ter uma relação mais forte, David, sem muito o que fazer e sozinho na casa, começa a vagar pela residência procurando algo que lhe tire o tédio, olhando incansavelmente dentro da geladeira, caminhando pelos cômodos, quando já sem mais ideias decide ler um livro. Em sua cena mais icônica, o longa demonstra repentinamente a transformação de David. Com seus efeitos práticos, cada momento se torna um espetáculo visual, animatrons e maquiagem pesada mostram como a época dos efeitos práticos conseguia dar realismo e proporções colossais aos filmes, cena essa que ainda hoje é mais lembrada em listas e principalmente na memória de qualquer fã do gênero.
David em sua primeira lua cheia, na casa de enfermeira Alex, após o ataque |
A trama se desenrola com as mortes mais aleatórias possíveis, deixando claro que dentro daquela perspectiva qualquer coisa pode ser inesperada e nada previsível. Cada personagem apresentado durante a transformação de David é completamente inesperada e seus retornos, durante suas alucinações com Jack, esse a cada aparição se mostra mais cadavérico, são recheados de diálogos marcantes, cômicos e desesperadores. O momento em que David reencontra Jack em um cinema pornô é hilária e um tanto sombria, seguida de mais uma transformação inesperada e mais mortes, cada detalhe é um deleite.
O final do longa impressiona e marca, todas as charadas mitológicas sobre lobisomens são quebradas e ignoradas na maior parte da trama, o que leva com mais facilidade e flui com muita naturalidade o roteiro. Os personagens se destacam pela própria personalidade sem deixar ganchos, ou aberturas não explicadas e tudo se fecha de forma orgânica.
Landis deixa sua marca não somente pelo visual e direção, mas pelo seu mais tradicional easter-egg. Vale a pena sair caçando durante o desenrolar do longa a frase “See You Next Wednesday”, e também pela trilha sonora muito bem escolhida, todas as músicas, de diversas bandas, fazem referência a lua cheia. Um longa indispensável pra quem ainda aprecia os tempos em que a narrativa conduzia a trama e os efeitos práticos eram a marca principal de qualquer boa produção, um detalhe muito bem posicionado que não data o filme e não se perde na história do cinema.
Uma produção voltada para o público mais jovem, feita em meados dos anos 90, chamada “Lobisomem Americano em Paris”, tentou seguir a mesma fórmula e pegar um pouco do sucesso do original. Sem muito empenho e aproveitando da tecnologia digital da época, a obra não emplacou e ainda tenta ser esquecida por muitos críticos e fãs, datado e sem inspiração. Passe longe.
Um Lobisomen Americano Em Londres (trailer oficial remasterizado 1981)
Mississippi Bones - Full Moon Risin’ (álbum - Mississippi Bones - 2010)
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