KM Blues (2012)

Fora da Caixa: Para quem procura por coisas diferentes ao seu redor

Por Maiara Zaminelli 

Era o segundo dia de janeiro de 2013 e estava tentando voltar pra casa após uma semana no litoral paulista, praticamente presa por um dia na rodoviária de Santos, com uma mochila que já carrego boas histórias e uma chuva que não me deixava sair de lá e passear pela cidade que praticamente desconheço. Tinha que pegar o ônibus para Londrina (PR) somente às oito e meia da noite; era uma hora da tarde e tinha que arrumar algo pra me distrair. Achei um local apropriado para sentar e lá fiquei por algumas horas, por sorte guardava algumas HQs na mochila. Foi ali na rodoviária com destino marcado, mas ainda perdida por estar em um lugar desconhecido, que comecei a ler KM Blues.

Flávio é um homem que decide se divorciar e largar o emprego para ir em busca de respostas sobre seus sentimentos. Ainda sem saber o que quer, ele parte em direção a São Paulo. Ao seu lado está o grande sambista Cartola, uma espécie de amigo imaginário de Flávio, com quem divide todas as suas dúvidas e pensamentos.  Flávio reencontra os velhos amigos de banda e lembra de um amor antigo que nunca esqueceu. Preso a todos os acontecimentos de sua vida ele almeja um futuro, para isso parte mais uma vez pela estrada para descobrir o que deixou para trás e refazer sua vida. 


Em KM Blues as páginas que revelam o passado de Flávio estão em preto branco. Já as cores que desvendam o presente são realmente marcantes, tons terrosos que nos fazem entrar no clima estradeiro com um pouco do Blues, um belo trabalho do colorista Wagner de Souza. Mas samba é que conduz a narrativa. Não só com a presença de Cartola, mas com as letras do sambista que aparecem para pontuar os acontecimentos. Os desenhos ficaram por conta de Wanderson de Souza. Já o roteiro é de Daniel Esteves. 

KM Blues foi bem mais que uma distração, uma história que trata das pontas soltas que deixamos ao longo da vida e que nos faz pensar sobre como as coisas poderiam ser diferentes se não fôssemos pegos pela acomodação e a rotina que deixa tudo mais fácil. Mostra que, apesar de caminhos escolhidos, ainda podemos prestar atenção nas oportunidades e desejos que sentimos e seguir estas sensações.

Depois de ler KM Blues em um dia tumultuado na rodoviária, a vontade era partir de Santos para algum lugar que não fosse Londrina, mas para prosseguir precisamos resolver nossas pontas soltas no lugar que deixamos para trás.

“Confiante despeço-me dos meus amigos e da cidade. 
Só voltarei quando encontrar felicidade”


Texto originalmente escrito em janeiro de 2013

Cartola - Preciso Me Encontrar (1976)

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